O mais sintomático dos pedidos da defesa de Lula a Sergio Moro é o de gravar a audiência desta quarta-feira com o fotógrafo Ricardo Stuckert, o das belas fotos de massa que ajudaram a construir sua imagem de Messias.
Quer construir a versão editada de como pretende que seja vista sua participação no primeiro embate em que não tem controle da narrativa.
— Muito bem, senhor Luiz Inácio, mas vamos nos ater aos autos — deve ser a frase que mais teme, aquela em que Sergio Moro vai estabelecer quem é que manda e deixar transparecer que sua capacidade de manipulação do discurso, da versão e das massas tem limite.
Ou pior, pode ser um engodo que enganou uma geração por mais de 40 anos.
Lula construiu sua carreira no palanque, em via de mão única, nunca exposta a contestação.
É por demais conhecida sua dificuldade com jornalistas, em parte responsável por sua desgraça com a imprensa influente. Mandou bem com eles enquanto faziam dobradinha para denunciar a ganância empresarial, a opressão da ditadura, os escândalos dos governos civis que a sucederam e e só até sua posse na Presidência da República.
Por vício ou insegurança intelectual ou porque só pisa em terreno conhecido, operou a vida inteira com jornalistas amigos, só aceitou entrevistas longas a dois para TV com repórteres de sua cozinha e deu sua única coletiva, depois de muita pressão de sua assessoria no Palácio do Planalto, dois e anos e meio depois de sua primeira posse.
O caso do triplex a que responde nesta quarta-feira é outro complicador, porque foi/é também o primeiro e mais emblemático caso que expõe as fragilidades que gostaria de ver longe de sua biografia: o favorecimento à família, o interesse pessoal e a traição aos companheiros, como escrevi neste artigo: Três razões por que a ação do triplex incomoda mais Lula.
Transcrevo trecho, com as informações disponíveis à data, 27/1/2016:
- Esse é o que mais visivelmente traz a companheira de uma vida Marisa Letícia para o centro do palco. A principal prova da acusação se relaciona a seu envolvimento na administração da obra de reforma doada pela empreiteira envolvida na Lava Jato por conta de desvios na Petrobras.
- No caso do segundo processo mais complicado, da Operação Zelotes que desandou para investigar também provável venda de Medidas Provisórias, tem o envolvimento da família, o filho acusado de receber patrocínio de um interessado em beneficiar a indústria automobilística. Mas aqui, em como em outros depoimentos que deu como testemunha ou informante, ele pôde dizer que agiu sob elevados interesses públicos, independente de quem tivesse pedindo. Não duvido. Populista de carteirinha que operou para agradar todo mundo, editaria uma Medida Provisória para beneficiar a indústria automobilística a pedido de qualquer empresário de concessionária chorão. O amigo do pai e do filho, preso, teria agido para agradar ao rei, simular intimidade e abrir caminhos, mesmo em vão, como acontece nas melhores famílias governamentais.
- O arranjo para que a OAS assumisse os prédios paralisados da Bancoop exala certo cheiro de traição à outra família que lhe impulsionou a carreira, a trabalhadora. Na medida em que ele e alguns petistas graduados foram os poucos e primeiros a receberem o imóvel entre os mais de 2 mil cooperados em prejuízo pela cooperativa presidida pelo tesoureiro do PT, João Vaccari.
Lula manteve essas três famílias preservadas até sair da Presidência, em 2010. Se deixou desandar em favorecimentos depois que virou palestrante e consultor privado com sua influência no governo, é porque confiava na sua capacidade de argumentação para justificá-los a qualquer tempo. Ou que nunca teria um foro respeitável que a contestasse.
Esse foro chegou. E nele não assusta só o argumento em contrário de um interlocutor frio como Sergio Moro, mas ser exposto por três horas em suas debilidades e contradições.
Ninguém aguenta ser inquirido por três horas de foco no rosto sem titubeios, vacilos, esgares, suores, contrações musculares, as traições involuntárias de gestos, olhares e fala que traduzem para qualquer leigo diante da tela uma convicção, uma mentira ou uma dissimulação.
Nem Lula.
A prisão já está em terreno conhecido.
Roberto Jefferson, um maquiavélico clássico que não se pode descartar, predisse que ele prefere a vitimização de uma prisão do que ser abatido moralmente nas urnas, em 2018. Mas nem é preciso chegar a tanto. Com as recentes interpretações do STF, ele só ficaria preso o tempo de esquentar a militância e ser julgado o habeas corpus que o deixaria solto até o julgamento de recurso na segunda instância.
O problema é mesmo Moro. Hoje.
Juiz não fala
O mais correto é que Sergio Moro fizesse apelo a todos, indistintamente, que não fossem a Curitiba. Melhor ainda é que não fizesse apelo algum. Apanharia de qualquer jeito e, como se diz sempre, juiz fala no processo. Só. Ao se dirigir em vídeo só aos que apoiam a Lava Jato, deu caldo para os que acusam de ter lado.
Agora… é impressionante como que a militância pró-Lula politiza a questão todo o tempo e se acha no direito de acusar os outros de fazer política.
Faça-me o favor.
Pediu para adiar
Como opera a defesa de Lula na guerra contra Moro. O advogado Zanin pediu para anexar ao processo do tríplex a batelada de documentos da Petrobras que nada tinha a ver com a questão, mais de 5 terabytes, segundo disse. Assim que recebeu, entrou com recurso para suspender o processo e adiar a audiência por falta de tempo para analisá-los.
Gilmar x Janot
Boa entrevista de Gilmar Mendes à campeã de furos da Folha, Monica Bergamo. Algumas boas razões para ter libertado Dirceu e Eike Batista, a quem já havia negado um habeas corpus, mas difícil admitir que os dois sejam reféns e que seus incômodos com a força da lei só venha quando parte do andar de cima vai presa.
Como juiz é quase sempre inábil politicamente, e convém que seja mesmo, o tiro do procurador Geral Rodrigo Janot contra ele vai reforçar o corporativismo no STF.
vander diz
– Vou plagiar o nobre cientista político LUIZ FELIPE PONDÉ…Admiro alguns brasileiros que conseguem ter a capacidade de defender o cidadão LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.
aloisio santos de sá diz
Sua análise como de varios comentaristas deste portal e do jornal estado de Minas deixa muito a desejar em razão do interesse que vcs nutrem pela derrocada de Lula. São 36 anos de historias de lutas e de achincalhes públicos por revistas e jornais. Nada se comprovou até hoje, então, seus post’s parecem mais lamúrias do que matérias jornalisticas. Nem você nem seu patrão tem a imunidade exigidas para tal tarefa. Claro qeu vcs agradam uma parte da população e de seus leitores – inclusive publicam mais os elogios – é claro e obvio. É preciso isenção. Vcs agem como o Sergio Moro, nega vinculo político, quando todos sabem que existe, agem fora da lei e esperam, é claro, contam com a reciprocidade do TRF4 para suas mazelas, justificam a construção de nova jurisprudência. Uma aberração dessas justifica a ditadura em que vcs nos meteram após o golpe na Dilma. Tudo bem, somos fortes, já enfrentamos demônios maiores.
Daniel Santos diz
Descordo em parte que Moro quis politizar a toga em solicitar que os apoiadores da Lava Jato fossem para Curitiba. Entendo que o ato dele foi meramente uma formalidade para evitar confrontos entres os cidadãos. E como já se sabe, o exército vermelho sempre ganha apanhando ou batendo pois sabem se fazer de vítima a qualquer preço.
Souza diz
Bom… se errou, independente de que partido seja, tem que pagar. Talvez, pelo fato demuitos não admitirem isso, o lado político de cada um exarceba a razão em ambos os lados. Mas assim como num triângulo, existe outro lado. O que fica embaixo, sustentando os outros dois que se “empurram”, mas que sustenta e sofre com ambos. O palanque foi montado e não tem como negar a politicagem por trás disso. Se o venerado juiz for justo e correto (como não foi no caso do Banestado, crime tucano) há de se juntar provas e livrar o País de falcatruas de apenas um lado. Do outro… só Deus, pois esses…
Ramiro Batista diz
Grande Ricardo, meu colega do Opinião Sem Medo. Muito obrigado por sua avaliação.
ivone maria de araujo moreira diz
Chegou a hora bandido. Tdo tem seu preço: tarda, mas não falta.
José Geraldo diz
O telhado do Lula não é de vidro temperado, pelo contrário, parece ser uma fina película sem consistência nenhuma, assim como seu medíocre partido PT, Espero que a pedra merecida a ser atirada, ultrapasse o vidro e acerte em cheio a arrogância, a desonestidade escancarada e a total falta de caráter escondida atrás da falsidade expressa na cara desse Sapo Barbudo.
Ricardo Kertzman diz
Excelente, Ramiro! Excelente!!