Ninguém achou que fosse ser diferente.
É quase impossível fazer reforma estrutural, limpar o passado e refazer o presente, num país cartorial de máquina pública inchada e engessada, Congresso desmoralizado e corporações públicas e privadas apressadas em assegurar o seu naco antes que o país acabe.
Mas não é pouco o que Michel Temer conseguiu aprovar ou encaminhar em seus oito meses de governo, tropeçando no seu jeito vacilante, pouco à vontade diante do alto índice de rejeição que vazou da minoria comprometida com o governo anterior para uma faixa mais larga da população sem preconceito ideológico.
- Colocou um técnico com plena autonomia para gerir a Petrobras sem interferências políticas.
- Propôs e conseguiu aprovar o fim do monopólio da empresa na exploração do Pré-Sal.
- Propôs e fez aprovar a nova lei de governança de estatais, agências reguladoras e fundos de pensão, que acaba com indicações políticas e estabelece regras de gestão como a das empresas de capital aberto.
- Propôs e fez aprovar a lei que destrava as privatizações no setor elétrico.
- Propôs e fez aprovar a PEC do teto de gastos.
- Propôs e fez aprovar na Câmara a reforma do ensino médio.
- Encaminhou a reforma da Previdência.
- Encaminhou a negociação e aprovação de lei para socorro aos estados endividados.
- Apresentou uma série de medidas que independem de lei, ainda que tímidas, para aquecimento da economia.
- Adotou medidas para desengessar as relações trabalhistas, no que permite a prevalência dos acordos coletivos sobre a CLT.
Algumas mais fundas e estruturais, outras meia-sola, boa parte dependendo ainda de exaustiva deliberação do Congresso. No geral, porém, um conjunto que sinaliza um horizonte de bom senso para reorganizar o país e sua economia.
Mais importante, causa, reflexo ou pano de fundo, construiu uma maioria parlamentar segura para continuar o serviço e sinaliza para tempos de paz, a tal pacificação do país que é centro de sua proposta para a travessia até 2018.
O país deste final de 2016 está uns quilômetros à frente do que o que se encerrou há um ano, alguns dias depois de o presidente da Câmara Eduardo Cunha acatar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, num cenário sem perspectiva de coesão para aprovar qualquer coisa.
Com potencial inclusive para diluir as turbulências que estão por vir, em decorrência das revelações das 77 delações da Odebrecht e das prisões que devem fechar a Lava Jato. Ao custo de algumas cabeças de ministros envolvidos em denúncias, cujas escolhas constituem a parte ruim de seu saldo de governo.
Mas Michel Temer já mostrou musculatura suficiente, um tanto débil em alguns casos, e a cara de paisagem que vai costurando alianças de boa vontade por Brasília inteira, inclusive no Judiciário.
2017 será inevitavelmente melhor.
Cadalora diz
Num país onde se diz que se vive em democracia, mas voce é obrigado a votar e se alistar. Onde a constituição diz que a lei é igual pra todos mas uma minoria tem forum previlegiado. Onde quem começou a trabalhar mais cedo vai pagar o pato para se fazer uma reforma dirigida só para a grande massa. Dizer que as medidas que estão sendo adotadas esta corretas é um otimismo sem precedentes ou papo de quem nasceu em berço esplêndido..
valdir diz
Na condição de mero contribuinte, que acredito seja a condição de quase todos os brasileiros, e de simples eleitor, não me considero com a mínima condição de avaliar com competência e em perspectiva qualquer medida federal, acentuadamente devido a circunstância de não possuirmos uma mídia que faça por merecer mínima confiança no que noticiam ou avaliam; logo, por não admitir a ingenuidade como premissa, a conclusão a que chego não permite concordar com nenhuma das medidas, e o tempo dirá, certamente. Tudo o que percebo, contrariamente, é que nos falta serviço público; nada vejo ou leio sobre alguma alteração no tocante ao pagamento de juros da dívida pública; não sei se algum país relevante na produção de petróleo esteja abrindo as portas para qualquer um; não sei se num país de tamanha desigualdade, principalmente no tocante a expectativa de vida, se possa fazer uma reforma com um corte linear e pudesse satisfazer os interesses dos brasileiros etc. Portanto, é esperar para ver.
Adair Martins diz
Concordo em parte com o artigo. As medidas sugeridas pelo governo Temer sobrecarrega, ainda mais, a carga tributária, as mais altas do mundo, cobrada do cidadão. Infelizmente, diante de um cenário em que os políticos esvaziam os cofres públicos, a única alternativa que um governo encontra é tarifar mais o povo. Por que não, fazer com que os corruptos devolvam o dinheiro desviado. Simular prisões, como punição, que duram no máximo 5 anos é pouco para quem tem milhões do dinheiro público para gastar, é compensador diante dos poucos anos de clausura. Enfim, acredito que primeiro deveria haver um esforço para recuperar o patrimônio dilapidado pelos corruptos da nação, para depois ver se realmente é necessário tomar essas medidas que sacrifica o cidadão brasileiro. Sacrifício que não é compensador diante da falta de saúde, segurança, educação…
Cristiano Marques diz
No meio do caminho, tem uma Lava-jato.
Alexandre Myrrha diz
Concordo plenamente com seu artigo. As medidas implementadas em apenas seis meses já superam com folga o que fez de bom a “administração” Dilma (se é que fez algo de bom). Porém, Temer precisa vetar o projeto apresentado pelo Congresso acerca do equilíbrio financeiro dos estados. As contrapartidas originais já são por demais brandas. Deveria haver intervenção em cada um dos estados caloteiros para se identificar todas as falcatruas que estão sendo cometidas com o dinheiro de nossos impostos. Empreguismo, desperdício de toda ordem, incompetência administrativa são apenas algumas das causas do caos financeiro no Rio e MG.
Temer precisa endurecer o jogo. Os deputados mostraram mais uma vez o descompromisso com a nação. Parece que vivem em um mundo a parte. Isso tem que mudar..