Cada qual à sua maneira, cada um dos três personagens mais visados no festival de vazamentos da Lava Jato apareceram com pressa no noticiário desta segunda-feira, em que o país parecia de novo derreter.
O ex-presidente Lula acelera o enfrentamento.
Outro de seus advogados, agora Juarez Cirino, resolveu peitar o juiz Sérgio Moro na linha de enfrentamento que vem marcando as audiências que apuram a propriedade do apartamento do Guarujá. Interrompeu por três vezes uma pergunta dos procuradores à funcionária da OAS e não respeitou o indeferimento do juiz, que exigiu respeito e cassou-lhe a palavra.
A tática de tumulto procura criar qualquer fato que possa invalidar o processo e reforçar o discurso de limitação do trabalho da defesa e perseguição ao ex-presidente, no dia em que vazaram mais indícios comprometedores de seu envolvimento na Operação Zelotes.
Ele teria discutido acordo, em reunião no seu instituto, para que o lobista amigo Mauro Marcondes pagasse serviços não realizados à empresa de seu filho, Luiz Cláudio, em troca de sua interferência para edição de Medida Provisória e compra de caças suecos.
No final do dia, a Polícia Federal o indiciou, juntamente com Palloci, a mulher e mais quatro, em mais um inquérito: a ocultação do aluguel pago por terceiros da cobertura que utiliza, vizinha à sua em São Bernardo.
Há uma fome para pegá-lo, intensa ou calculada, justa ou não, em diferentes setores do Ministério Público e da Polícia Federal, a indicar que ele não escapa da prisão, se não fugir. Quanto mais enfrenta, mais essa fome aumenta.
Renan Calheiros acelera votações.
Depois de ser salvo de afastamento aos 45 do segundo tempo pelo Supremo, o presidente do Senado engaveta o processo de abuso de autoridade e apressa as instâncias da Casa para votar antes do recesso, que se inicia antes do Natal, a PEC do Teto e o Orçamento.
No mesmo dia em que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, o denunciou pela segunda vez ao STF, agora por corrupção ativa e lavagem de dinheiro pelo recebimento de doações triangulares da Serveng, que ele indicou à Petrobras para angariar contratos de mais de R$ 190 milhões.
Janot pede seu afastamento para fazer valer o que não conseguiu na sessão fúnebre de quarta-feira passada, em que o STF engoliu sua desobediência para mantê-lo no cargo, em nome, entre outras coisas mal explicadas, da governabilidade.
Há uma fome nele agora entre os procuradores de Janot, intensa ou moderada, com base em fatos graves ou nem tanto (a doação da Serveng, através do Diretório Nacional do PMDB, soa um tanto frágil). Seus doze processos no STF e a nova disposição do procurador geral indicam que seu mandato pode estar com dias contados.
Temer acelera negociações.
O presidente da República se deslocou numa maratona de reuniões no fim de semana, entre o Palácio Jaburu e residências oficiais, para articular o enfrentamento a sua maneira da crise turbinada pelo primeiro vazamento de uma das 77 delações da Odebrecht — a de Cláudio Melo Filho, que o envolve no pedido e recebimento de R$ 10 milhões através dos amigos Eliseu Padilha e José Yunes.
Em três frentes, pediu pressa de Renan e do presidente da Câmara Rodrigo Maia na votação da PEC do Teto e no encaminhamento da reforma da Previdência, articulou a recomposição do governo com o PSDB e pediu formalmente a Rodrigo Janot que conclua logo os processos de delação de forma a liberar todo o conteúdo de uma só vez e causar todo o estrago de uma só vez.
Numa tacada esperta, tornaria sem efeito a fome de setores do MP interessados em minar seu governo, saciaria a da grande imprensa ávida pelo prometido fim do mundo que adviria das delações da empreiteira, diluiria o peso das acusações distribuídas de norte a sul pelo espectro político, mais confundiria que explicaria (como no caso dos 40 indiciados de uma só vez no Mensalão) e encurtaria o prazo de repercussão.
Ele tem pressa de arrancar da sociedade alguma sinalização de que está dando resultado para não ser engolfado por um movimento sem controle das ruas que peça sua renúncia e convocação de eleições, como sinalizaram os péssimos indicadores de sua rejeição no DataFolha deste fim de semana.
Ou, pior, vá sendo sangrado até 2108 pelo vazamento longo, lento e sistemático das delações, à média de uma por semana. Ou exatamente ano e meio de solavancos até a campanha de 2018, considerando-se as 77 delações.
Nada a perder com os riscos de Lula e Renan, cartas praticamente descartadas do baralho nacional, mas há muito com outro solavanco na presidência da República, menos de quatro meses depois de um impeachment.
Nenhuma análise equilibrada é capaz de considerar que o país pode parar de novo para uma campanha eleitoral, inevitavelmente sanguinária, e que se tire dela algum resultado sensato, dado o clima instalado.
Seria melhor mesmo que a Procuradoria Geral da República e o STF mostrassem serviço e resolvessem logo o que está em seu âmbito sobre as autoridades de foro privilegiado, engolfadas até o pescoço em suspeitas. Trocassem a fome a vontade de comer pelo garfo e a faca. Um mutirão, senhores.
Se daí resultar que o presidente é réu, afaste-se-o. Que o Congresso coloque outro até 2018. Mas que se reduza a agonia.
Ou, então, mais simples, que se dê logo publicidade a tudo. Como vem ensinando Sérgio Moro em suas audiências gravadas em vídeo e disponibilizadas, ninguém perde nada com isso, a não ser os réus e os militantes de vazamento.
CRISTIANO ALDAIR ANDRADE MARQUES diz
Santo fim de ano e seu recesso parlamentar.
2016 lembra 2015: acaba não, mundão.