Dilma Rousseff chegou a dizer em mais de uma ocasião que temia mais Renan Calheiros do que Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que colocou como seu objetivo de vida tirá-la da Presidência.
Achava-o mais “ladino”, segundo registrou a crônica política, para resumir sua imprevisibilidade, em oposição ao outro, de quem se conhecia com razoável grau de certeza os próximos passos.
Renan é um mestre na mais recorrente arte do jogo político, de colocar bodes na sala, aliado a um talento raro para colocar os pés em dois barcos ao mesmo tempo e certa genialidade para criar situações para se justificar quando precisa abandonar um deles ou construir uma saída para si mesmo.
- Ameaçou colocar e retirar, pautou e paralisou projetos e CPIs ruins para os governos em que teve influência.
- Antes do impeachment, tomava café da manhã com Dilma, almoçava com Lula, lanchava com Temer e jantava com o PSDB.
- Entre muitos exemplos de esperteza para construir uma grande saída, ficou marcada para mim a encenação com que sinalizou sua virada em favor do impeachment, nos dias finais do processo. Depois de dar corda até o limite para a turma da banda de música do PT obstruir os trabalhos — Lindbergh Farias, Vanessa Grazziotin e Gleisi Hoffman —, tomou como traição o fato de terem dito que o Senado era um hospício e desceu até o plenário para fazer seu réquiem de marido traído, próximo da separação.
Nos últimos tempos, já bem acomodado no governo que ajudou a implantar, depois de vários bodes que Michel Temer teve que retirar, vinha colocando bodes na sala do Judiciário. Ameaçou com a comissão especial dos altos salários, prometeu acelerar no Senado a votação do texto aprovado na Câmara que desfigurou as dez medidas contra corrupção e há bom tempo vem acenando com a pauta do projeto de abuso de autoridade que enquadra juízes e promotores.
A tática, um tanto manjada mas que sua esperteza dá viés de sutileza, implica colocar em pauta um projeto ruim e aguardar que o interessado se aproxime para seu círculo. Nos últimos tempos, atraiu importantes autoridades do Judiciário para reuniões e audiências, inclusive Sérgio Moro, diante de quem, a seu modo equilibrista entre duas canoas, disse que a Lava Jato era sagrada.
Tamanho talento explica por que arrasta tanto apoio, à esquerda e à direita, para fazer valer sua vontade e vem se mantendo influente ou indispensável aos governos há quase trinta anos, mantendo longe de sua sala todos os bodes ou ameaças reais como os doze processos que responde no STF.
Da única vez em que correu risco real, na descoberta de seus desvios para pagar a pensão à amante, renunciou para voltar mais forte.
Desde ontem, ele está com um elefante na sua porta, na figura do afastamento da presidência determinado pelo ministro Marco Aurélio de Mello, a ser julgado em sessão desta quarta-feira na savana do STF. Se ele atravessar a soleira e empurrá-lo para a cozinha do poder, será segunda vez em que perderá o controle dos bodes.
E será divertido ver com que jogo construirá uma nova saída para rejuntar seu rebanho.
Celia Fernandes diz
Não entendo como toda a nação vive sempre numa total réplica de propaganda, lavagem cerebral e desinformação quanto a frase que já tornou um refrão nas redes de televisão:: “PRISÃO PARA ESSES CANALHAS DE POLÍTICOS” Se soubessem quanto custa para o Estado um ladrãozinho qualquer, não repetiam estas frases. NÃO PRENDAM POR FAVOR! Bloqueiam todos seus bens e de toda sua geração, retornando aos cofres públicos tudo que foi levado. Deixe-os pelados, com uma condição de nunca mais ser eleito nem para portaria de prostíbulos.
Afonso Lemos diz
Os poderosos estão caindo. Cunha primeiro, agora Renan e mais um punhado que a Odebrecht vai jogar no fogo do inferno, porque a sociedade exige. Depois trataremos dos bons-bocados do poder judiciário, das suas “aposentadorias” e de muitos assuntos mais Vai ruir muita coisa também. Parlamentares já não terão sossego em aeroportos e restaurantes porque serão hostilizados. Cadeia para quem merece,.cortes para quem tira onda de nababo, vigília para com o restante. Muda Brasil.