Do que ouço, leio e infiro sobre a eleição nos Estados Unidos, hoje:
- Donald Trump arrasta o apoio da grande maioria da classe média branca, para baixo, incomodada com a queda do seu poder aquisitivo. Apesar da recuperação da economia com Obama, desde 2010, ela não percebe melhoria em suas condições de vida. Como, digamos, no governo Lula, a classe média percebeu uma melhoria nos indicadores, mas não para ela.
- Hillary Clinton arrasta o da elite intelectual e econômica, além da maior parte de negros e hispânicos, tradicionais eleitores democratas. Os hispânicos, com 16% da população e 25% dos votos, estão cabalando votos como nunca em reação às ameaças objetivas de Trump de perseguição aos imigrantes. Pode levar também maioria das mulheres, ofendidas com as declarações homofóbicas do adversário.
- A reação positiva das bolsas em todo mundo a cada vez que aumentam as chances de Hillary é sinal de que tem ela tem apoio amplo do establishment, que acha a recuperação da economia um tanto meia-bomba, mas que seria pior com Trump. Sua política de taxar produtos da China, na ilusão de que empresas como Apple passariam a produzir o Iphone em solo americano, é tida, no mínimo, como anacrônica.
- Qualquer outro republicano — Mike Pence ou Ted Cruz — teria mais chances contra Hillary, dada a polarização e o alto índice de rejeição a ela, tida como pouco confiável. Como qualquer outro democrata — Bernie Sanders, por exemplo, querido dos jovens — se sairia melhor contra o polêmico, histriônico e retrógrado Donald Trump. Ele é entretanto mais carismático, sabe usar os meios de comunicação com demônios simplificadores e ela é meio picolé de chuchu. Nunca empolgou.
- Nenhum analista sério na grande imprensa americana consegue articular um bom argumento para explicar como que um aventureiro anacrônico e despreparado tenha chegado tão longe. O sistema americano tem filtros que, desde sempre, repelem os extremos mesmo em situações de crise. Os adversários republicano e democrata acabaram chegando ao final muito parecidos e com poucas divergências de fundo.
- Como nenhuma outra, a mais polarizada das eleições americanas vai provocar mudanças profundas nas concepções de governo republicana ou democrata, mesmo que ganhe Hillary e se mantenha o atual status quo. Os republicanos hão de aprender que há um mundo multicultural a ser considerado num país que vai se amorenando com a imigração hispânica crescente. Os democratas, que há alguma coisa errada no seu modo de gerir preferencialmente para as minorias, com as quais está assumindo novos compromissos.
- Como todas as outras, foi uma eleição suja e com pancadaria abaixo da linha da cintura. Os americanos não reconhecem o direito de qualquer privacidade a pessoas públicas. A polarização é tal que, para um negro ou hispânico antecipando seu voto para fortalecer Hillary, há um branco de classe média na rua para garantir Trump.
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