Nem foi uma rejeição total aos políticos e nem tão onda conservadora, como se esperava e se disse (eu mesmo) sobre as eleições municipais de 2016.
No balanço geral, não se pode dizer que foram rejeitados políticos numa eleição em que:
- reelegeram-se metade dos prefeitos,
- retomaram suas cadeiras ex-prefeitos antigos como Íris Rezende em Goiânia, Rafael Greca em Curitiba, Artur Virgílio Neto em Manaus ou Humberto Souto em Montes Claros,
- deram banho os filhos de políticos ou oligarquias como João Dória em São Paulo, ACM Neto em Salvador e Marchezan Júnior em Porto Alegre,
- PMDB e PSDB consolidaram sua supremacia,
- a diferença de votos entre políticos e não políticos, na reta final, foi irrisória,
- os caciques voltaram a eleger seus afilhados no Nordeste, como os Gomes de Fortaleza e os Campos de Recife, e
- a base de Temer elegeu seus aliados em 85% das cidades.
Mais correto seria falar de competência ou incompetência de campanhas locais, que fizeram a glória ou a miséria de bons candidatos, como ocorreu em Belo Horizonte, onde a má campanha de João Leite explica mais seu infortúnio que qualquer vinculação partidária.
Conservadora? Nem tanto.
Não se pode chamar muito bem de onda reacionária um pleito em que o eleitor:
- votou de nariz torcido em Marcelo Crivella no Rio e Alexandre Kalil em Belo Horizonte,
- revelou caras novas de norte a sul e
- deu vida a partidos nanicos, como o PHS em Belo Horizonte, o PMM em Curitiba e Vitória, o PCdoB em Aracaju, o PSOL e a Rede em muitoa municípios ou na vice liderança, como no Rio. A ponto de já se discutir as dificuldades de votar cláusulas de barreira para reduzir o número de partidos.
O mais correto talvez seja dizer que houve uma uma retomada da velha ordem que não é de direita e nem de esquerda. Uma volta à normalidade que rejeita extremos depois da experiência fracassada do projeto de esquerda. O ponto no fim da curva.
Direita e esquerda
Sobre o que não há dúvida é que se rejeitou o PT, seu entorno e seus postulados.
João Dória foi o maior símbolo dessa rejeição ao devastá-lo de seu berço. Marcelo Freixo afundou e perdeu voto até em Ipanema, contra um político sobre o qual havia pouca convicção, quando saiu do primeiro turno chamando de golpe o impeachment de Dilma. Nem o nordeste quis saber mais do partido.
Não tanto por ser PT. Muito por seu envolvimento com o maior dos escândalos de corrupção e outro tanto pelo desastre econômico que piorou a vida de todo mundo e assinalou a incompetência do partido para gestão.
Foi um voto de protesto, o maior desde que as esquerdas arrastavam multidões às ruas para votar contra os militares. Um estranho voto de direita, que não quer mudar nada, mas apenas fazer as coisas voltarem a seus lugares.
É uma guinada, digamos, conservadora, no que ela tem de melhor: a retomada da ordem, do respeito à lei, da rearrumação da casa que foi devastada pelo teste de laboratório do projeto de governo popular. Que nas cidades redundou em desemprego, insegurança e falência dos serviços públicos
Nessa nova velha ordem, a esquerda retoma seus históricos 20% dos votos e seu palanque, onde se sente mais confortável e de onde só saiu para tentar a experiência que não deu certo e por que seu principal líder convenceu a outra banda de que iria dar.
Gosto de repetir a frase do prefeito de Nova York que virou nome de aeroporto, Laguardia: “não existe uma forma de direita ou de esquerda de varrer rua”. Para a maior parte da sociedade, só há uma: a correta. A esquerda, tanto quanto a direita, pode se candidatar a implantá-la, desde que reveja seus conceitos.
O eleitorado, em sua maioria, está sempre disposto a ser convencido.
Andre diz
Muito bom ,top
valdir diz
Visto ser tarefa impossível analisar e adequadamente encontrar certezas sobre os motivos que ensejaram as opções do eleitorado, principalmente em eleições municipais num país continental e tão diversificado em seus aspectos culturais, morais, econômicos e sociais, certamente que as conclusões dos expertos, quando honestas e desvinculadas de partidarismo, não passam de mero exercício de adivinhação. Ainda assim, quanto à decantada veia corrupta do PT, então vista como razão de seu apequenamento, foge à lógica que tal igualmente não tenha ocorrido com as legendas do PMDB e o PSDB, ambos envolvidos, conquanto que não mensurados, em graus que podem superar os ditos prejuízos causados por aquela legenda. Todavia, não se pode negar a importância da novelização dos fatos negativos, transformados em verdadeiras tragédias, de uma única legenda em paralelo com a omissão, da grande mídia, em relação às demais. Um registro: vejo como uma discriminação odiosa o tratamento dado aos nordestinos, quando asseverou que “os caciques voltaram a eleger seus afilhados no Nordeste, como os Gomes de Fortaleza e os Campos de Recife”, porque não são índios.
Gil diz
O PT colheu o que plantou. Corrupto por corrupto, todos partidos tem, mas, o que o PT elevou a patamares incríveis, foi a INCOMPETÊNCIA. As coisas que eles fizeram na economia, nem meu filho de 9 anos, faria. Desregularam tudo, se intrometeram onde não deviam, seguraram preços, criaram estatais e mais estatais, e gastaram o que não tinha. Resultado: 12.000.000 de desempregados. Eu mesmo fiquei 11 meses sem emprego, com 2 filhos. Como posso gostar de uma QUADRILHA destas, Que suma do mapa.
Wanderson Luiz diz
‘Um estranho voto de direita, que não quer mudar nada, mas apenas fazer as coisas voltarem a seus lugares.’ Não concordei muito com essa frase, uma vez que a direita ainda possui pouca representatividade com políticos, falta opção de direita e muita gente ainda não sabe o que é direita ou esquerda na politica. Por falta de opção quem conhece ou não os lados políticos acaba evitando votar na esquerda, mas acho que esse quadro tende a mudar em algumas eleições futuras onde acredito que será possível saber nitidamente quem é de direita ou de esquerda e ja teremos candidatos para vencerem e serem avaliados como bons e/ou ruins.
Agora isso é fato, a melhor forma é a correta, sem direita ou esquerda.
Até!
Márcio Rezende diz
Depois da campanha massante da mídia contra o PT e partidos que compunham a base do governo, não poderia ser diferente os resultados das urnas. Mas não me preocupo, a própria direita ressuscitará a esquerda. Não existe nação no mundo que se tornou potência sem investimentos em social e essa ação não é virtude de direita, que o diga quem viveu os anos 80 e 90, o povo logo sentirá falta.
A abstenções dizem muito do que pode acontecer nos pleitos gerais de 2018. Os governos que aí entram terão um árduo caminho até a firmação de suas intenções, mas, a contar do fundamento que os elegeram, acho pouco provável que evoluam positivamente.
No mais, espero que o país estabilize politica e economicamente, precisamos, pois o preço está muito alto a ser pago pela vaidade e egocentrismo de poucos.
Lílian Costa diz
Bom dia Ramiro.
Texto claro, imparcial, inteligente, com domínio da visão real da situação, dando mostras, mais uma vez, da qualidade de escrita, conhecimento dos temas e talento de seu autor.
Grande abraço, Lílian.