Aaron Sorking é um dos roteiristas mais sagazes dos últimos tempos em Holywood. Dos raros que escreve sobre política com conhecimento da mecânica interna do poder, sem maniqueísmo e idealizações.
Criou, escreveu e supervisionou West Wing, sobre os bastidores da Casa Branca, uma das séries mais premiadas da televisão americana, entre o final dos anos 90 e início dos 2000.
Pois ele tira leite de pedra para fazer de A Rede Social um bom filme, trabalhando apenas com o livro de Ben Mezrich, Bilionários por Acaso (Intrínseca). O livro termina antes dos processos judiciais que o criador do Facebook teve que enfrentar por deixar pelo caminho os sócios que o patrocinaram.
Compondo cenas das audiências judiciais com o centro do suspense do livro, salvou o filme e, por tabela, o livro.
É um suspense eficiente, curto, com personagens rasos, para dar conta em prazo curto do recado de aproveitar a onda de sucesso do site de relacionamentos. O próprio autor também deve ter tido dificuldades de trabalhar com um material precário, personagens sem história dramática suficiente, nenhum grande clímax e dúvidas se o vilão é mesmo vilão.
O drama do brasileiro Eduardo Saverin, que patrocinou o site e foi desbancado pelo nerd Mark Zuckerberg (e principal fonte do autor), é o que dá alguma substância ao livro. Mas não o suficiente para dar a impressão de que, se o autor tivesse mais tempo e talvez outros propósitos, ele poderia sair do livro com maior densidade dramática. É apenas pouco mais raso do que os outros.
Parece igualmente difícil tentar arrancar um drama de maior qualidade de um personagem como Zuckerberg, cujas motivações o autor teve dificuldade de entender e traduzir. Até por que não conseguiu entrevistá-lo. Não fica claro se o criador do Facebook foi tão mau caráter quanto parece. Tangenciando pela imparcialidade, fica também no ar se os gêmeos e o brasileiro tinham ou não razão em reivindicar o que pretendiam.
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