Leio que a pelagem densa e marrom avermelhada da capivara dá excelentes sapatos, luvas e jaquetas na Argentina, onde é também consumida como carne exótica.
Como no Uruguai, na Venezuela e em boa parte da América do Sul, território desse roedor que vem servindo carne, couro e gordura para efeitos medicinais desde que Cristóvão Colombo e Cabral chegaram por aqui.
É mais ou menos com o nosso boi, de que só ainda não aproveitamos o berro. Ou como certos animais ou peixe que o governo autoriza caçar ou pescar só em determinadas condições ou épocas do ano, de forma a conter o excesso que pode comprometer o equilíbrio ecológico. Taí o seguro defeso, que paga pescadores que nem o são, entre novembro e fevereiro, para garantir as crias que serão pescadas no futuro.
No Brasil, em Minas e especialmente em Belo Horizonte, ela vem sendo tratada como boi na Índia.
Só pode ser o que explica que mobilize tanta gente em sua defesa, entre técnicos, especialistas, organismos de defesa do ambiente, agentes públicos, lideranças políticas e analistas de jornal como eu, além de, claro, os motoristas de táxis que tudo sabem, depois que um escoteiro de dez anos morreu de febre maculosa originada de carrapato que pode ter saído de seus pelos reluzentes.
Na quinta-feira, em diferentes pontos da cidade, voltaram a se reunir técnicos do Ibama, do Instituto Estadual de Florestas (IEF), da Diretoria de Zoonoses, da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), da Fundação Zoobotânica, da Secretaria de Meio Ambiente e da Coordenadoria de Defesa dos Animais, ao mesmo tempo em que o Ministério Público fazia audiência pública com outros técnicos, especialistas e estudiosos como um professor da Universidade Federal de Viçosa.
Isso, depois de um mês de campanha eleitoral em que o assunto se tornou principal prioridade dos candidatos e na véspera de a associação dos moradores da Pampulha entrar com recurso para fazer valer uma liminar enfim aceita por um desembargador, vejam só, federal. Souza Prudente mandou fazer enfim o que qualquer leigo faria num primeiro momento depois de aspergir carrapaticida na região: isolar os animais.
Entre uma coisa e outra, esse batalhão de gente reunida num grupo especial decidiu obrigar a Prefeitura a tomar um monte de medidas que seus técnicos devem estar cansados de conhecer. De execução complicada, como procurar outros focos de mosquitos na cidade, ou de efeito discutível, como a decisão radical de distribuir panfletos.
A ideia foi a de conscientizar os transeuntes de forma a preservar os animais, da mesma forma que um dia se culpou os clientes de bancos por usar celular quando as saidinhas de banco viraram febre nos meios de comunicação. Ou, como na piada velha, o marido que vende o sofá quando descobre que a mulher tem um amante.
Animais políticos na imprensa
Não acredito que ambientalistas, entre os quais se incluem os românticos que querem proibir vidros em construções para não iludir os pássaros, sejam contra abater ou castrar capivaras dentro de manejo correto. Até porque, a omissão implicaria um aumento de população ao ponto, não impossível, de que superasse um dia a dos belorizontinos de dois pés.
Trata-se mais, possivelmente, de um caso clássico de desequilíbrio do nosso ecossistema de decisão, em que, ao contrário da natureza, não manda o mais forte e nem fica muito claro quem é predador e quem é caça.
Por trás de tanta campanha e tanta reunião com tanta gente desde que as capivaras ganharam o noticiário, um monte de animais políticos devoravam-se uns aos outros num democratismo de cobra comendo o próprio rabo enquanto o roedor passeava com sua pelagem luzidia cheia de carrapatos sob o sol da orla da Pampulha.
Imagino que, se a prefeitura tivesse mandado um veterinário para lá e lhe dado autonomia para fazer o que sabe da primeira vez que elas começaram a incomodar, ele teria resolvido o problema. Não necessariamente por morte ou castração. Sem trauma e sem imprensa.
Mas nada é simples neste país mais politizado do que deveria e onde é menos provável ser preso por matar um homem do que uma capivara. E onde o poder público, como se sabe, é notório em colocar fechadura depois da porta arrombada.
Se tivesse encarado o problema nas primeiras capivaras, elas não teriam crescido, se multiplicado, espalhado mosquitos, matado criança e mobilizado o enxame de plutocratas, animais políticos e livres atiradores de opinião pública que zunem como moscas em torno de holofotes.
Gerando novos desequilíbrios.
Andrea Gomes da Silva diz
como diziam nossos avós: animal silvestre e homem juntos não se dão pq os animais silvestres, principalmente, são hospedeiros de inúmeras doenças
Ana Gomes diz
Posso ser uma leiga no assunto, mas uma coisa me chama atenção nessa situação. Há tempos temos capivara na região da Pampulha e sempre esse assunto vem a tona. Mas nunca efetivamente tinha saindo caso de morte por febre maculosa nessa região.
Só que desde o ano passado a PBH cortou a verba do serviço de capina quinzenal na cidade, o mesmo só ocorre de 3 em 3 meses, e olhe lá. Na região que moro (Oeste) não temos capivara, mas há um local da PBH de recebimento de entulho. Durante a semana vários carroceiros e seus cavalos ficam por lá. Desde que a capina deixou de ser regular é impressionante como cresceu o número de carrapatos nas redondezas. Várias pessoas deixaram de passar pela região com seus cachorrinhos, pois os mesmos voltavam sempre com um ou outro “amigo” indesejado.
É sabido e notório que muitas vezes os carrapatos ficam presos nos matos e folhas. A criança não foi picada pelo carrapato porque brincou, abraçou e se divertiu com uma capivara.
Será que esse controle de carrapato não seria feito se a PBH limpasse mais a cidade, capinando-a como antes? Até porque a população paga por esse serviço anualmente ao quitar o IPTU.
Carlos Roberto do Carmo Costa Oliveira diz
No início da construção da Capital, e bem antes, já existiam capivaras nos vários cursos d’água que passam (passavam) pela região da Pampulha. Até a criação da Fazenda Santa Luzia (bairros São João Batista, Santa Mônica, Santa Amélia, Santa Branca, Fazenda dos Menezes (Céu Azul e Jardim Atântico). A escolha do local para implantação do Zoológico não foi aleatória.
O principal predador do carrapato dos gados e das capivaras era um pássaro chamado Anu ( tinha o braco e o preto), onde inexistente na Pampulha. Ainda é comum no interior, principalmente nos pastos, quando ficam nas costas das reses, alimentando-se do carrapato. O suco intestinal dessas aves não permite a reprodução de bactérias colhidas nos carrapatos.
Melão diz
Sua opinião deve ser a mesma de 99,99% dos cidadãos de Belo Horizonte.A Lagoa da Pampulha nunca foi “habitat” de capivara nenhuma.Em nenhum relato histórico consta que teria sido encontrado algum espécime desse animal, durante a fase de Projeto ou mesmo de Execução das obras de implantação da Lagoa.Com certeza, uma das razões para existir esta falsa polêmica deve ser o excesso de funcionários públicos, teoricamente dedicados à área ambiental,que por falta de coisa mais importante para fazerem se alinham a outros espécimes humanos exóticos para justificarem sua vã existência aqui na terra.