Há uma falsa questão no ar, de que o governo precisa apressar as reformas para reduzir o mal estar e a má vontade que se traduzem nas manifestações de rua e nas vaias a cada vez que alguém do governo põe a cara para fora.
Que acaba criando a falsa polêmica da pressa com que devem ser aprovadas, como se fizesse muita diferença se a reforma da Previdência fosse enviada ao Congresso antes ou depois da eleição de 3 de outubro.
Ainda mais a da Previdência.
Se aprovada e nas condições ideais, que não deve ser, só vai equilibrar o sistema em décadas. Como a trabalhista ou a que impõe limites aos gastos do funcionalismo. Todas complicadas, quase inviáveis, pelo lobby pesado do funcionalismo e as dificuldades reais de fazer cortes numa máquina engessada, de crescimento vegetativo mesmo sem aumentos.
É tarefa de gerações, como digo no artigo em que falei da ignorância do mercado e de boa parte do jornalismo econômico a respeito dessas dificuldades: Melhor atleta do governo, Meirelles tem vara curta para reformas >
O que o governo não tem coragem de comunicar, intimidado pela cobrança do noticiário ansioso e alguma angústia com as ruas, é que nada pode fazer a curto e médio prazo. Tem que contar com um vago clima de confiança que vai fazer o setor privado voltar a investir, promover crescimento, gerar empregos, melhorar a arrecadação e ajudar a melhorar o caixa. Para o governo voltar a gastar. Como sempre.
No compasso, conta e aguarda que os protestos de rua refluam.
Não porque vão algum dia apoiar qualquer proposta de corte, ainda mais deste governo. São na maioria de funcionários públicos ou entidades beneficiadas por verbas governamentais que, além da resistência natural a cortes, estão na luta política em defesa do governo anterior. Mas porque há um momento em que as coisas começam a dar certo e a oposição, qualquer oposição, vai perdendo argumentos e aliados.
O que ele precisa se preocupar, no curto prazo, é com as adesões ao adversário.
Como já se profissionalizam, depois da quebradeira dos black-blocs em São Paulo e como demonstrou a boa organização de ontem, esses movimentos começam a absorver a simpatia de estudantes sem causa e de alguns funcionários públicos sem partido. Podem, devagar, sensibilizar aquela boa parte da sociedade a que já se chama “nem-nem”. Nem Dilma e nem Temer.
Que não quer ver Dilma, Lula e o PT nem pintados de ouro. Mas Temer, sua turma e seus vacilos, também não.
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