O mundo — ou o mundo seguro como conhecemos — parece ter acabado neste novembro ingrato, com, pela ordem:
- o fuzilamento em massa de 137 pessoas em diferentes pontos do país por jovens sem causa que podem ser recrutados em qualquer lugar para atuar a qualquer hora,
- a tragédia do rompimento da barragem da Samarco, que arrasou um povoado em Mariana e segue degradando outros até o mar do Espírito Santo,
- a informação do ministro da Saúde que, com as informações disponíveis sobre o vírus da Zika, é melhor nenhuma mulher engravidar.
Antes que o mês terminasse, porém, o mundo de Lula — ou o mundo de Lula como ele o conheceu — parece também ter desabado com a prisão no mesmo dia do amigo que o protegia (José Carlos Bumlai) e do senador que o protegeria (Delcídio do Amaral).
Os procuradores da Lava Jato estão por desvendar/provar pelo menos duas conexões sérias, depois da prisão dos dois:
- O empréstimo de 2004 para o PT, avalizado junto ao banco Schahin por Bumlai, era em parte para pagar a chantagem de R$ 6 milhões a Ronan Maria Pinto, que ameaçava esclarecer enfim quem matou Celso Daniel, em 2002, envolvendo Lula e José Dirceu na história. Marcos Valério contou isso em 2012, numa proposta de delação premiada que não foi aceita.
- A compra da sucata Pasadena que trouxe prejuízo de mais de 1 bilhão de dólares para a Petrobras foi, sim, para pagar dívidas da campanha lulista de 2006. Tem dedo de Delcídio, que nomeou o diretor da área internacional, Nestor Cerveró, e, no mínimo, complacência de Dilma e Lula. Ministra das Minas e Energia e depois da Casa Civil, foi por ela que passaram a nomeação e as negociações de Pasadena.
Bumlai anda tentando se justificar nos jornais, mais a cada dia fica mais difícil explicar, pela ordem:
- Como, tendo acesso a bancos a ponto de conseguir R$ 1,2 bilhão do BNDES, foi pegar emprestado R$ 2 milhões com o delator Fernando Baiano para dar a uma nora de Lula? Não poderia pegar em banco?
- Por que o Banco Schachin lhe perdoou uma dívida de R$ 12 milhões, do nada do nada, depois que ele lhe conseguiu com contrato de R$ 1,6 bi com a Petrobrás, para operar um navio sonda?
- E por que esse dinheiro foi para o PT, para quitar dívidas da campanha de 2006?
Para Lula, duas explicações difíceis:
- Por que ele era o único com acesso livre a seu gabinete, conforme portaria afixada pela segurança para evitar-lhe constrangimentos, exatamente à época que intermediava os contatos milionários?
- Por que ele chamou de “coisa de idiota” a ação de Delcídio, se era público e notório que ele recorria ao senador periodicamente para ações públicas e privadas?
Sorte de Lula se tivesse que explicar apenas atentado terrorista, desabamento de barragem ou epidemia de Zika vírus.
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