A nova prisão do ex-todo poderoso ministro chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, na operação Pixuleco da Lava Jato, me remeteu à cena que resume o dilema moral do maravilhoso Breaking Bad.
A mulher do professor de Química que perdeu o limite da ambição como produtor e traficante de drogas o leva até a montanha de dinheiro recolhida ao preço de ter esfacelado toda a família. Diz a ele que tem dinheiro ali para algumas gerações a frente e, como se falasse para a geração da Lava Jato que fez da corrupção um método, pergunta, mais ou menos assim:
— Quanto mais é preciso? Quanto mais é preciso para você parar e eu ter a minha família de volta?
Dirceu não parou nem quando vinha respondendo a processo por ter liderado o Mensalão e nem quando estava preso, cumprindo pena. Ao contrário, uma vez livre do governo, ampliou os negócios de sua consultoria com os Ministérios e as estatais.
Entre as provas colhidas contra ele, na que deflagrou a prisão, agora por reincidência, sua empresa JD intermediou a contratação da Consist.
Funcionava assim. O governo transferiu a essa empresa, sem licitação, a responsabilidade dele de informar aos bancos, mediante remuneração, a margem possível de endividamento dos servidores (consignável) para empréstimos consignados. Com direito a acesso ao cadastro dos 2 milhões de servidores.
A Consist fez um contrato falso com a Jamp, de Milton Pascowich, de R$ 10,4 milhões, com os quais ele pagava as despesas de Dirceu e sua família. Entre as quais, a reforma de R$ 1,3 milhão numa casa e fretes aéreos.
Curioso que Dirceu tenha andado pelo país se defendendo do Mensalão, em reuniões com militantes, em voos pagos por dinheiro desviado.
Impressionante que tantos intelectuais estejam vindo a público para defendê-lo, sem levarem em contra tantas provas e sem se sentirem traídos. Mesmo que o líder de olhos azuis do passado tivesse viajado de jatinho pago com propina para convencer a militância de sua inocência e mandasse reformar casa e comprar apartamento enquanto faziam vaquinha para tirá-lo da cadeia.
Que não usem isso no tribunal. Mas, um tanto influenciado pela paixão que provoca nesse meio, pensei em Maria Antônia assim que li a primeira notícia sobre a prisão.
É a filha de cinco anos com quem ele vinha assistindo desenho animado nos últimos dias e a quem deveria comunicar que estava indo para a cadeia. Como é que se explica isso a uma criança?
Me remeteu à cena mais forte e dramática do seriado inglês The Fall, em que o serial killer vivido por Jamie Dorman, descoberto, tem que comunicar à filha que papai vai viajar e pode não voltar.
Nessas horas, a gente perdoa até seriais killers.
Ou estou ficando intelectual petista ou velho.
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