Política não é para os melhores e nem para os mais fortes.
Jovem analfabeto sobre as coisas da vida, eu achava o vôley esticava os atletas, a natação alongava e a ginástica artística achatava, em se considerando a altura dos primeiros, a esqualidez dos segundos e o quase nanismo dos terceiros.
Acabei descobrindo neles a melhor explicação para a teoria da seleção natural das espécies que derrubou o mito do criacionismo e explicou enfim de onde viemos e por que sobrevivemos.
Não é que o vôley estique. É que os baixinhos, sem chances numa especialidade cuja condição de ser bem sucedido depende de altura, envergonhados ou fracassados, vão caindo fora.
Da mesma forma que vão procurar outro rumo os troncudos de braço curto que tentam a natação ou os altos que sonham com a ginástica artística, onde ser nanico é ideal para o número de piruetas no ar antes de se cair de pé.
Sobram os mais aptos, os cada vez mais adaptados, e — meu outro choque de adolescência — não os mais fortes.
Ouvi que pesquisadores levaram um bom tempo para entender porque certo tipo de cobra não passava de determinado tamanho apenas em uma região de pântanos e floresta no interior de São Paulo. Depois de muita observação, como Darwin na Ilha de Galápagos, perceberam que, assim que cresciam além da média, tornavam-se visíveis entre as folhagens para os gaviões.
O que quer dizer que a sobrevivência, ali, não dependia de ser mais forte, mas de ser mais adaptado ao ambiente.
Adaptação política
Na Política, que aprendi antes de assistir uma olimpíada, raro vi vencerem os melhores e nunca os mais fortes. Minha primeira ilha de galápagos foi o pântano da escolha do governador de Minas por via indireta, pelo general Ernesto Geisel, nos estertores da ditadura militar, no final dos anos 70.
Entre tantos políticos mineiros melhores e mais qualificados no cardápio disponibilizado ao ditador por seus acólitos, ganhou o piauiense Francelino Pereira, cujo principal dote era ter servido ao regime com uma subserviência canina, à beira da pusilanimidade, como líder da Aliança Renovadora Nacional (Arena) no Congresso. Era o adaptado perfeito.
Com o tempo, convivendo por dentro e por fora, na política ou nas empresas e instituições por onde passei, fui vendo o triunfo dos medianos sobre os mais preparados, até dar em Michel Temer, esse exemplar acabado da adaptabilidade, que, como o seu partido, vem se mantendo à sombra e às vezes dentro do poder há algumas décadas, sem precisar de voto.
Sua antítese é Dilma Rousseff, a aprendiz de nadadora sem altura e jogo de cintura, que caiu de paraquedas na arena de cobras de tamanho médio do pântano de Brasília. Sem nenhuma capacidade de adaptação ao meio.
Arte política da concessão
O povão pouco esclarecido tem a ilusão de achar que símbolos de competência, inteligência ou lisura como Pelé, Silvio Santos, Joaquim Barbosa, Sérgio Moro ou Fernanda Montenegro seriam grandes presidentes da República. É a tentação primitiva de achar que pessoas mais inteligentes, e talvez por isso mais fortes, são mais preparadas para tudo.
Durariam menos que Dilma.
Dá para contar nos dedos de uma mão o número de intelectuais bem sucedidos em política, como Václav Havel na Checoslováquia ou Fernando Henrique Cardoso no Brasil, que, não por acaso, foi tratando logo de mandar se esquecerem do que escreveu. Porque foi apto o suficiente para ir se adaptando às circunstâncias à medida que se submetia à melhor prova de fogo de sobrevivência nessa atividade, as eleições.
Porque, como os que se julgam fortes, intelectuais têm dificuldades de fazer concessão, essa arte da política que busca consensos possíveis, reunindo pessoas não necessariamente melhores em objetivos comuns.
É do barro que somos feitos. Que mãos mais hábeis têm mais competência para manipular.
Marcos Pimenta diz
Excelente comparação! Mas não podemos pender para os extremos quanto à questão do preparo intelectual, pois do contrário cairemos em peças como Lula, ignorante, semi-analfabeto, e por isto mesmo refém de ideologia equivocada, mas altamente politizado e hábil politicamente. Deu no que deu… Desnecessário comentar mais.