“Estancar a sangria” e 7 verdades sobre o grampo em Romero Jucá

O senador e agora ex-ministro do Planejamento Romero Jucá tentou tergiversar sobre sua conversa revelada pela Folha de S. Paulo, que está nos sites de notícia de hoje, ao que tudo indica gravada pelo seu único interlocutor, Sérgio Machado. O ex-presidente da Transpetro queria proteção em Brasília para não cair nas mãos de Sérgio Moro.

O ministro tentava convencer que a intenção é “apressar” a Lava Jato para “delimitar” logo quem são os réus e quem os inocentes, nos quais se inclui.

Mas a conversa deixa claro que havia em março, época da gravação, a ideia de que era preciso derrubar o governo para conter a pressão que agrava as motivações do Judiciário contra a classe política.

— Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura — diz a certa altura o então senador, para quem o juiz Sérgio Moro era/é “uma Torre de Londres”, referência ao castelo onde se arrancavam confissões sob tortura.

Os sete pontos que fazem sentido na conversa:

1. Derrubar o governo para estancar a sangria
   Romero Jucá – “Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria. Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem: ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa p* não vai parar nunca'”
2. Lula como ministro nada resolveria
   Jucá – “Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para p* nenhuma.
3. Renan, de fato, jogava contra Michel Temer
   Jucá – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa p*. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, p*.
   Sérgio – O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.
   Jucá – Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
4. Um acordão para salvar todo mundo
   Sérgio – Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais.
5. Supremo fechou as portas e Judiciário quer renovar a classe política
   Sérgio – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
   Jucá – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
   Sérgio – Odebrecht vai fazer.
   Jucá – Seletiva, mas vai fazer.
   Sérgio – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…
   Jucá – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura…
6. Tentar articulação com Teori Zavascki é inútil
   Sérgio – Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
   Jucá – Não tem. É um cara fechado.
7. Candidatos, incluindo os do PSDB, estão todos queimados
   Sérgio – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
   Jucá – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido. Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
   Sérgio – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha p* nenhuma…
   Jucá – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

Uma oitava verdade não incluída no pacote é que se trata da primeira grande saia justa para o novo governo.

Não parece haver elementos seguros e objetivos de obstrução, mas, como o que vale é sempre a versão — ou a narrativa, como se diz agora —, Michel Temer está diante da narrativa de que:

• um grande acordo para, entre outras coisas, reabilitar pontes com o Judiciário adviria naturalmente do novo governo e
• segurar um ministro suspeito, com a melhor das intenções, mesmo sem trâmite transitado em julgado, não convence quem quer que seja.