O presidente interino Michel Temer é um político do tipo antigo que ainda usa mesóclises e a expressão “letras garrafais” que ser-lhe-ia mais apropriada nos anos 50 do século passado, quando designava manchetes em fontes tipográficas maiores em jornais impressos em tipografia.
Sua casaca gramatical cheia de caspas do século XIX na frente de um Ministério monocromático de homens brancos de ternos cinza, no seu pronunciamento inaugural do novo governo, suscitou implicâncias nas redes sociais , opiniões e artigos nos jornais sobre uma volta ao passado em contraste com o quadro na parede de Dilma Rousseff se despedindo na frente de seu grupo colorido e multirracial.
A comentarista da Globo News Renata Lo Prete achou o quadro “meio retrô” e o articulista Bernardo Mello Carvalho escreveu na Folha de S. Paulo que foi a maior guinada à direita desde 1964. Outra maioria dos livres pensantes nas redes cobrou uma cota de negros, mulheres e homossexuais. Como naqueles comerciais de crianças brancas sorridentes que o publicitário salpica aqui e ali uma criança negra para não pegar mal.
Não deixa de ser curioso imaginar o presidente escarrapachado na cadeira giratória, depois de um dia de rodadas exaustivas de articulações para fechar o Ministério, olhando para o teto num devaneio: “bom, agora preciso arranjar um negro, uma mulher e um homossexual”.
Discurso velho e novo
Não quero acreditar que tanta gente inteligente acredite que cor, sexo ou preferência sexual sejam pré-requisitos para ocupar cargo ou que que seus detentores sejam mais competentes para tratar de políticas públicas relacionadas a suas condições e preferências. Acreditam certamente que é o retrato na parede do discurso de Temer evoca um modelo antigo, patriarcal, conservador.
Mas, confrontando os dois quadros, entre o monocromático e o colorido, o branco e o diverso, o velho e o novo, eu acabo por me perguntar quem é conservador, se é o discurso do velho que vem mais afinado com os tempos modernos.
Pelo que se ouviu em seu pronunciamento e nas entrevistas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o novo governo defende reformas para fortalecer a livre iniciativa e a liberdade de competição, sem privilégio a setores, em oposição a um modelo intervencionista anos 50, cartorial, controlador e xenófobo, quase coronelista, de subsídio a escolhidos.
Vivemos/construímos nos últimos tempos a deturpação de que basta assumir um discurso social em defesa das minorias para se posar de moderno, com o paradoxo de defender controle e intervenção estatal para protegê-las.
O que levou à ideia de Estado paizão que tudo pode e tudo controla e à sua inimiga: a de que a liberdade de iniciativa, principalmente na economia, é como colocar o cabrito para tomar conta da horta. A ponto de criar a confusão de se condenar como atraso o que pode ser o moderno nesses novos tempos, retrocesso o que pode ser a saída e o futuro.
O liberal Temer tem a cara, o jeito e o entorno conservador, mas todas as suas propostas, por enquanto e talvez por isso, apontam para um mundo em transformação que a política intervencionista dos últimos tempos tentou encapsular, por conta de preconceitos de classe e aversão a ricos e lucros. O entrave das concessões e da desregulação da infra-estrutura do país, por demonizar o capital, é só um exemplo.
Cultura e comportamento
O pensamento de esquerda que comanda esse metabolismo social contra Temer é de fato progressista e um tanto anarquista em cultura e comportamento, no que contribui com grandes avanços da sociedade. Mas sempre viveu a contradição ou a ignorância de defender liberdade para tudo e todos, menos para a economia e os empreendedores.
Quem é conservador, então, cara pálida? E quem é progressista?
Sim. É possível que esteja havendo uma guinada conservadora a uma reação natural aos maus resultados da política progressista que fechou suas contas na quinta-feira do impeachment. Mas podemos dormir tranquilos que o metabolismo da política também provoca, com o tempo, reações a reações.
Dependendo dos estragos dessa dita conservadora, alguma reação em contrário virá nas próximas eleições e nas próximas das próximas, até, quem sabe um dia, o equilíbrio. Nossa democracia, como se sabe, é jovem e só agora começa a fazer boa parte da população cair na realidade.
Como diria o novo presidente, sê-lo-ia prematuro acreditar no contrário.
Mario diz
Esse Leonardo Andrade vive ontem??? Então, segundo suas ‘ideias’, tire o empresário do jogo e deixe só os trabalhadores!!!!!! kkkkkkkkkkk…sem empresário não existe emprego,não é Leonardo? Me diga, qual empresa no mundo que foi comandada por trabalhadores e que deu certo? Esse molde não é de empresa e sim de cooperativas, cujas diretorias também agem como os empresários que vc cita…….pense e estude mais e fale menos bobagens!!!!!!!!!
Robes Mendes diz
Se fizermos um balanço do que resultou do pensamento e das ações da esquerda para a humanidade, chegaremos a uma conclusão assombrosa: não há nada que se compare aos crimes cometidos contra a democracia e contra os direitos humanos pelos regimes “progressistas”.
O que nos permite afirmar que, em termos de resultados práticos, não existe nada mais reacionário, fascista e retrógrado do que o tal do “progressista”.
Leonardo Andrade diz
O Governo precisa sim exercer controle das coisas. Principalmente no Brasil, onde as grandes empresas não tem critérios éticos e respeito à sociedade e ao meio ambiente. — EXEMPLO: o PSDB “doou” a VALE (Cia vale do Rio Doce) por 3 bilhões quando seu valor de mercado à época era de 40 bilhões. Resultado: a tragédia sócio-ambiental de Mariana, provocada pela Samarco (que é controlada pela Vale privatizada). — FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS: governo Temer (que tem participação ativa do PSDB) quer alterar as regras que regem a vida dos trabalhadores de forma que o empresariado tenha controle e decisão acima das Leis Trabalhistas: péssimo para quem gera divisas para o nosso Brasil, que é justamente o trabalhador que produz (os grandes empresários são, geralmente, dominadores e exploradores).
Luiz Bento diz
Essa manchete em forma de pergunta é no mínimo hilariante, se não for tonta e mostra que o articulista, não é jornalista. Qual Estado, por mais capitalista que seja, não é intervencionista. Qualquer governo tem que governar, governar é sinônimo de normatizar e normatizar pra quem entende, ao pé da letra é interferir, estabelecer limites. O Temer, não vai fazer nada disso, vai apenas atender anseios da classe dominante e o resto que se dane como sempre.
Luiz Bento diz
Ele é ladrão, ela é honesta. Uma coisa nada tem a ver com a outra, mas obviamente fico com a honestidade.
José Fernandes diz
Fato é que a tonalidade da cutis e o sexo dos atores políticos não garante a ação intransigente e constante na defesa de minorias. O que vale lembrar Condoleezza Rice e Colin Powell, ambos parte do governo Bush que foi acusado até de racista ainda quando governador.
Por outro lado, a presença de lideranças políticas com afinidades com identidades sociais, étnica ou de gênero, (muito além dos aspectos físicos) garante a sensibilidade do governante com as temáticas tratadas por seu governo e eleva estes grupos a qualidade de possível proponentes às políticas públicas por sua atuação.
O estado necessita ser intervencionista, não há como negar as desigualdades em nosso país. Por mais antigo que a ideia seja, estes atores ainda precisam de proteção para concorrerem em igualdades e fazerem jus as suas liberdades.