Primeiro e por enquanto único político punido com rigor no escândalo do Petrolão, o senador Delcídio do Amaral não caiu prioritariamente pelo grave crime de tentativa de obstruir a Justiça num enredo rocambolesco de dar fuga a um réu.
Caiu porque meteu bala em todos os que iriam julgá-lo.
Mais ou menos como se você estivesse na forca, dependendo do julgamento da plateia e, quando seu carrasco lhe pedisse as últimas palavras, você acusasse a plateia de falta de moral para julgá-lo. Forca na certa.
Aconteceu da mesma forma como Roberto Jefferson, o acusador do Mensalão, que compareceu ao Conselho de Ética que iria julgá-lo, em junho de 2005, com as pastas de prestação de contas eleitorais de todos os parlamentares, disposto a abrir uma a uma a cada vez que fosse acusado para dizer em alto e bom som que ninguém ali tinha moral para cassá-lo pela doação de R$ 4 milhões recebida do PT para o seu PTB.
Com seu conhecimento de causa de cinco mandatos, saiu convencido de que tinha perdido 210 votos só naquele dia.
Narrativa de vingança
Delcídio resolveu se vingar de todo mundo que tripudiou sobre a sua desgraça, a começar do ex-presidente Lula, que o chamou de idiota, e da presidente Dilma, de quem era líder no Senado, que o taxou de mentiroso. De sobra, disparou contra os caciques dos outros partidos centrais de quem dependeria de apoio futuro, como Renan Calheiros, pelo PMDB, e Aécio Neves, pelo PSDB.
Agiu por vingança e com o fígado, num discurso moralista de salvação nacional, e foi além do que precisava em sua delação premiada. Poderia ter se restringido ao crime de obstrução, objeto de sua prisão, e não disparado sua metralhadora giratória de acusações ainda carentes de provas contra 37 políticos relevantes.
Um político mais pragmático e mais sereno, no meio da tremenda pressão moral que sofreu da sociedade e família, teria escolhido os alvos e os aliados.
Restringiria o ataque, por exemplo, ao PT, que já tem fama de Geni suficiente para dar legitimidade a sua narrativa, e preservaria os possíveis aliados que poderiam a vir salvá-lo, sobretudo dos dois partidos centrais.
Teria muito mais dificuldade de ser cassado por aí.
(O salve-se quem puder é tal que os senadores queimaram o colega sem sequer levar em conta que poderiam estar queimando também um aliado importante, o ex-presidente Lula, que perde o foro o privilegiado na ação de obstrução de Justiça que dividia com o cassado.)
Cruel que tenha caído por menos do que o que pesa contra algumas dezenas de parlamentares no Congresso. Como ocorreu com Roberto Jefferson e depois com José Dirceu, o segundo a ser cassado no Mensalão, não existem provas de que tenha colocado a mão em dinheiro.
Os três cometeram crimes, mas o maior foi, por razões diversas, ter posto os colegas na linha de tiro.
Maria Rocha diz
Eh tao legal ver esta opinião em dias como hoje, não acha? Quer dizer que Delcídio agiu errado ao acusar todos os criminosos que comandam este país? Ele agiu errado com ele mesmo, mas ele expos pra nação brasileira o como somos feitos de idiotas. Fiquei pasma de ler o que eu li. Acho que então, todos os políticos não devem agir por “raivinha” mais e pensar nos seus próprios cargos políticos. Bela colocação! Pois eu prefiro que todos tenham raivinha um dos outros e comecem a soltar os podres de todos., Assim, os brasileiros terão real noção de quem comanda este país são um bando de políticos sujos e ladrões e o que é pior, que ainda tem uma parcela da sociedade que apoia q eles continuem agindo desta forma!