O PT e o PSDB estão, como se dizia, como o cachorro que caiu da mudança. Tinham projetos mais ou menos consistentes para chegar a 2018, aos trancos e barrancos no caminhão alquebrado do país idem, mas foram ejetados para fora no quebra-mola do impeachment.
O PT jogava com a recuperação a médio prazo da popularidade da presidente Dilma e o esquecimento da Lava Jato, assim que Lula retomasse as rédeas do governo como chefe da Casa Civil para um terceiro mandato de coalizão e o encaminhamento de uma candidatura viável, que poderia ser a própria.
O PSDB apostava no sangramento lento, gradual ou acelerado da mesma presidente e não à toa resistiu o quanto pôde ao impeachment. Iria lamber os destroços até a campanha para nadar no fracasso da presidente, com um Aécio Neves cacifado pela campanha de 2014 ou um Geraldo Alckmin, em campanha para descacifá-lo.
Nessa conta, dependendo do estado do governo, o PMDB continuaria como sócio oculto do PT ou lançaria um candidato, se fosse possível chegar a acordo em torno de uma candidatura no seu conhecido balaio de gatos.
O impeachment e Temer mudam tudo. E a possibilidade de que Temer possa cavalgar uma onda de otimismo aprovando as reformas necessárias e se cacifando para a reeleição, mais ainda.
Partido sem cara e corpo
O PT namora a fantasia de voltar a ser a oposição romântica dos bons tempos em que não tinha cargos, dinheiro e poder, com a desvantagem de não ter mais o líder que lhe deu cara e corpo. Um dos mais venerados fundadores do partido, Francisco de Oliveira, disse recentemente que, sem Lula, abatido pelos últimos estragos políticos e judiciais, o partido é nada.
Pode tentar construir um cinturão de oposição respeitável com deputados mais pragmáticos ou governadores moderados como Camilo Santana, Rui Costa ou Fernando Pimentel (se superar seus problemas judiciais), para um papel marginal nas eleições de 2018. Com um candidato inviável para vociferar contra o vento, como fez nos bons tempos do Lula eterno candidato, ou costurando algum tipo de apoio.
A Temer? Se Lula ainda estiver vivo politicamente, não descartem.
Governo de conciliação nacional
O PSDB está no falso dilema de apoiar o governo Temer, chamado à responsabilidade histórica por parte dos meios de comunicação e por José Serra, que não tem mais viabilidade eleitoral dentro do partido e admite um cargo no novo governo para voltar a se viabilizar fora dele.
Falso porque previsível. O partido vai se reunir no próximo dia 3 e deve decidir que apoia o governo, mas que não vai participar dele.
Seus líderes principais sabem que nada teriam a ganhar nesse governo de conciliação nacional. Afundam junto se der errado, levam água para o moinho de Temer se der certo.
Não é preciso ser malandro e tucano para saber que, à luz da história, promessas como a de que Temer não seria candidato, em nome da união nacional, não valem um voto de traidor depois que a votação está ganha.
Temer candidato em 2018, num clima de otimismo, Aécio ou Alckmin terão que adiar seus planos para 2022.
Em política, como se sabe, é preciso pegar o cavalo quando ele passa arreado. Mas o que fazer quando não há cavalo e seu lugar é desconfortável no caminhão da história?
Pedro nelson diz
E Ramiro, vc bateu na cangalha….
Augusto Machado diz
Caro Ramiro, espero que você esteja certo e essa inflexão marque a decadência definitiva desses dois partidos que impedem a discussão de propostas verdadeiramente alternativas para o Brasil. Que partidos como o NOVO saibam ocupar esse vácuo e mostrar ao povo que existe vida fora do assistencialismo estatal.