Frente de egos, o partido tem enfim o ônus do comando e a oportunidade de mostrar que não quer só cargos
Não tenham dúvidas: se o PMDB deixou o governo e abriu mão de tantos cargos, é porque deve ser bom negócio.
O partido só fez bons negócios em nível federal, desde que a Presidência lhe caiu no colo com a morte de Tancredo Neves, em 1985.
Veio a partir daí se agarrando como parasita no organismo de todos os governos desde então (Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula), sem voto e sem o ônus do comando.
Parece nesse sentido com o PFL, produto da frente criada como uma dissidência do PDS para eleger Tancredo que foi se ligando umbilicalmente aos governos posteriores, até morrer de inanição depois de FHC.
Quase morre também.
Lula tentou ficar livre dele, esnobando seu apoio nas eleições de 2002, por conta da dificuldade de um interlocutor único para conversar e, diz-se, do alto preço a pagar.
Mas acabou ficando mais caro. Lula autorizou o seu chefe da Casa Civil, José Dirceu, ir às compras no Congresso e inchar partidos mais confiáveis, como PTB e PDT, com deputados de partidos nanicos. Deu, como se sabe, no escândalo do Mensalão.
Acabaram fazendo um bom negócio para as eleições municipais de 2004 e as federais de 2006, quando um Lula um tanto desmoralizado pelo Mensalão precisava de apoio, muito apoio. A história hoje conta como seus líderes foram convencidos a aderir, compartilhando a administração da Petrobras, e acabaram de braços dados até ontem.
Frente partidária
Se dependesse exclusivamente do partido, também não tenham dúvidas, é possível que não saísse. Foi preciso que na outra ponta da mesa tivesse um negociador (negociadora, digamos) muito ruim, que não cumpre acordos e não tem a mínima capacidade de lidar com sua constelação de egos.
Porque o PMDB é basicamente isso: um sistema planetário de gente de tudo quanto é tipo que se reuniu um dia numa frente contra o regime militar, ganhou capilaridade na maioria das prefeituras e dos Estados e acabou se fortalecendo no jogo duplo.
Sem um líder nacional aglutinador desde a morte de Ulysses Guimarães, no início dos 90, virou um celeiro de oportunistas: para cada deputado ou vereador que o governo seduz, há um outro pronto para melar o jogo se não for atendido também. Para cada Renan Calheiros, seduzido a fiel, há um Eduardo Cunha chutando a canela.
Não nasceu de princípios programáticos e em cima de uma base ideológica definível, como o PT de clara vocação socialista ou o PSDB de clara intenção social democrata. Não foi possível dizer até agora que ideologia professa, se liberal ou intervencionista, se é claramente a favor da livre iniciativa ou do estatismo.
Ou porque esteve muito ocupado procurando cargos de qualquer natureza ou porque não teve a oportunidade de estar no comando para testar suas teorias. Seu primeiro governo federal, o de José Sarney, não era bem dele: um tipo de frente com tudo o que é tipo de gente e de princípios, deixada pronta por Tancredo no leito do hospital.
Com mais um governo no colo, Michel Temer tem agora a oportunidade de colocar a prova sua teoria, seus princípios programáticos e seu projeto de país. Pela primeira vez, poderá ocupar cargos para dizer a que veio e não porque precisa pagar as contas de campanha.
Plano governamental
Como o tempo curto e há um país em ruínas, é possível que passe os próximos dois anos e meio apagando incêndio e seu grande projeto de país seja apenas fazer cortes e iniciar reformas, preparar o palco para que ele mesmo ou outros se apresentem com mais clareza.
Seu plano apresentado em novembro, Uma Ponte para o Futuro, não é chamado de “ponte” à toa, no sentido de algo que leva alguma coisa de uma ponta a outra. Acusado de viés liberal, não é mais do que precisa ser feito a curto prazo para recuperar o poder de investimento e alavancagem do estado.
No primeiro momento, vai ter que parecer neoliberal e terá que ter couro duro para aguentar a pressão dos chamados movimentos sociais que o PT deve mobilizar. Julgá-lo entretanto por isso ou pela pressão das ruas, será injusto.
Acordem-nos em 2018 para saber se essa frente ou constelação de interesses difusos tem mesmo o que dar ao país.
Se pelo menos recuperar a capacidade de diálogo destruída nos dois últimos governos, poderá pelo menos plantar as bases para novos partidos e líderes com objetivos nítidos que ajudem a plantar uma nova ordem. Pelo menos um sistema partidário em que se possa confiar.
Paulo Bretas diz
Você escreveu em seu texto “a nível de” isso é um erro de português quase imperdoável.
Escreva da próxima vez “em nível de” ou “ao nível de”.
Sua língua pátria agradece.
Um abraço,
Paulo
Marcos Melão diz
Este PMDB é igual b6sta.Não afunda. O rio sobe,o rio baixa e a b6sta continua boiando.Só desaparece quando se dissolve.
Vinicius Larangeira diz
Pois é meu caro, parasita ou não, todos os governos dependeram do apoio do PMDB. Não esqueça que vivemos em um presidencialismo de coalização.
O eleitor brasileiro deve lembrar que votar em um determinado candidato é como casar com mulher com filhos: Está levando o pacote completo! ou seja, você não vota no candidato ou no partido mas na coligação.
Em tempo: Tancredo Neves era do PMDB quando foi eleito pelo colégio eleitoral.