Nas últimas semanas, dois manifestos das indústrias do livro e do cinema nacionais, com mais de 8 mil assinaturas cada, causaram mais constrangimento que respeito, apesar da repercussão que os artistas sempre provocam.
Se defendiam uma causa nobre, como é da natureza dos manifestos, neste caso a defesa da democracia, por que tiveram efeito contrário?
Minha tese é a falta de legitimidade, por três razões.
Assim como o PT que chegou ao governo e destruiu seu patrimônio ético ao defender tudo o que condenava, nossos artistas estão condenando tudo o que defendiam.
Em linhas gerais:
- Que não existe manifesto a favor. Desde o antropofágico de Oswald de Andrade, passando pelo dos intelectuais que ajudaram a derrubar a ditadura de Vargas, em 1945, ou dos que denunciaram a ditadura dos militares e as falcatruas do governo Collor, manifesto intelectual sempre foi denúncia de que o rei está nu.
- Que não há risco para a democracia se o Judiciário é forte, faz cumprir as leis, garante pleno contraditório e manda ricos e pobres para a cadeia.
- Que imprensa não pode ser chapa-branca. Democracia se faz com transparência plena, mesmo sujeita a excessos, seja por juízes por retiram sigilos de processos, seja por jornais e jornalistas. Foi o contraditório, o direito de reunião e de expressão plena, contra qualquer tipo de censura, o que sempre defenderam.
Não quero acreditar que a maioria defenda um governo moribundo e suspeito por desinformação. Ignorância sobre informação básica do que acontece no mundo não é da natureza da classe.
Nem também por interesse pecuniário. Os anos Lula/Dilma foram de abundância em verbas do BNDES e da Petrobras para projetos culturais, mas deve se contar nos dedos os signatários que ficaram ricos produzindo textos ou audiovisuais encomendadas pelo governo, suas estatais ou suas agências de publicidade.
Resta a convicção ideológica, aquela vocação de confundir o ideal com a realidade que é típico da classe. Por aí acabam vivendo e defendendo mais o que deveria ter sido do que o que realmente é. Roberto Campos dizia que, para a esquerda, o socialismo não foi um fracasso, mas uma bela experiência mal explicada.
Talvez o que queiram dizer não é bem que a democracia esteja em risco, mas que o projeto em que acreditaram fracassou. Que o status quo que denunciavam, uma direita que se auto preserva, se protege e se organiza sem precisar de mobilização nas ruas, está de novo se reorganizando para continuar mandando. Mudando para continuar do mesmo jeito. Como sempre.
Se sim, por que não denunciar honestamente isso?
Será por que teriam que admitir que, para sobreviver, esse projeto teve que se aliar a esse atraso? Que, para bancar a primeira experiência de um governo popular, tiveram que pagar por isso, in cash? Ou acham que não convém brigar com o status quo que volta, na figura de um Michel Temer e sua trupe, e pode lhes garantir mais alguma sobrevivência?
Ou um pouco mais de ilusão?
Porque acredito também nos ingênuos, nos puros de coração, que preferem sonhar e têm uma forma peculiar de verdade que não atingimos.
No sábado de madrugada, Caetano Veloso cantou Tropicália na abertura da bela edição do programa Altas Horas dedicada a ele e Gilberto Gil, na Globo, e eu senti uma tremenda saudade do Brasil daqueles tempos.
Aqueles acordes de guitarra revolucionários de quem organizava o movimento, orientava o carnaval e inaugurava o monumento no planalto central me remeteu à cara do país que eu trazia no peito, em que nossos artistas tinham prazer pela ruptura e certo sentido de missão contra qualquer tipo de opressão. Que em geral vem de cima, dos governos.
Caetano e Gil estão nesse meu relicário sentimental, que os perdoa por qualquer coisa. Sei que são capazes de assinar qualquer desses manifestos, porque, no fundo, devem achar que seus colegas querem apenas um mundo melhor. Aquele tal mundo ideal que a realidade insiste em negar.
Nesse caso, uma assinatura a mais ou a menos para atender algum velho amigo dispensa um monte de explicações. O que importa é cantar.
— Viva a bossa, sa, sa, sa. Viva a palhoça, ca, ça, ça, ça.
MURILO diz
PORQUE ESTES VELHOS MOFADOS DA MPB JÁ ERAM EM TUDO POLITICA, MÚSICA, SÃO O LIXO DA CULTURA BRASILEIRA, QUE SÓ PSEUDO INTELECTUAIS GOSTAM, E VIVEM EM BERÇO DE OUTRO E PREGAM IGUALDADE DESDE QUE ELES VENDAM SEUS CD E FAÇAM SHOWS E SE MANTENHAM RICOS.
Marcos Melão diz
Dizem que o Socialismo não existiria sem o Capitalismo para lhe financiar os sonhos.A riqueza acumulada por esses artistas com seu trabalho, não foi lhes dada pelo Socialismo que eles tanto defendem. Isso ajuda a entender por que tudo que dizem é apenas uma grande e oportunista campanha de marketing em proveito próprio.
Gilney diz
O que se percebe do Lula e de outros líderes atuais do PT, é que eles querem levar esta atual ” guerra” para o campo ideológico, que realmente vem tomando corpo, de forma indevida e perigosa, mas ainda não é o foco principal da maioria da população, que é da paz e não é idealista. Esta imensa maioria da população composta por pessoas comuns que são realistas, que vivem o dia a dia e se revoltam com o escândalo gigantesco e único que estamos vivenciando. Este grupo que se apoderou do PT está se utilizando desta estratégia com intuito de camuflar a face verdadeira deles, mais perversa e mais criminosa. Com isto, eles conseguem mais apoio de seus seguidores ingênuos, idealistas puros e sonhadores, que ficam, inflamados e mais armados de espírito. Se utilizam de discursos emocionais que lembram pastores de certas igrejas evangélicas ou de ditadorzinhos de paisinhos republiquetas de bananas. Com estas estratégias, eles ficam entrincheirados e escudados aguardando os “ataques” do lava a jato, dos promotores, dos juízes e das nossas leis. Outras estratégias, também utilizadas por eles, são a desconstrução política e moral de pessoas que os ameaçam e das leis do país, com ataques furiosos e desconexos da realidade.
Xisto Silva diz
Ramiro, depois que artistas trocaram de operadoras telefônicas e cervejarias, ainda resta alguma dúvida de que o fazem pelo dinheiro? Foi-se o tempo em que eram líderes manipuladores aos seus próprios interesses – diga-se: bolso!
Flávia Tobias diz
Muito bom seu texto. Sou, como muitos, uma ex-socialista, da época em que vivia nos sonhos e ideais, e que caiu na real ao viver na prática do mercado, das pessoas, do mundo real. Já visitei o sul da àsia, a Rússia, e paises da ex república soviética. Tive oportunidade de conversar com o povo (apesar do grande temor de ser punido por responder minhas perguntas). Convivo ainda com colegas com grande dificuldade em admitir o fracasso que é o comunismo na vida real. Admitir que é sonho, ilusão, é muito doloroso para alguns e seu texto foi sensível em perceber essa dificuldade.