Minhas sete principais impressões sobre a cerimônia do Oscar 2016, alguns graus mais leve, divertida e, por conta do apresentador Chris Rock, detonadora:
- Com a vitória do meu favorito Spotlight, o Oscar preferiu premiar a direção segura de um suspense elétrico com um elenco estelar em que todos parecem protagonistas. Tanto que o mais forte deles, o repórter vivido por Mark Ruffalo, foi indicado como coadjuvante. E um roteiro original de viés conservador, mas muito competente por alinhavar tanta informação, dar força a tantos personagens e ir sobrepondo camadas de relevações em favor do clímax crescente.
- Embora tenha dado o de direção a Alejandro Iñarritu, descartou as pretensões de O Regresso com seu ritmo arrastado e suas doze indicações. Os eleitores da academia parecem ter-se apaixonado pelo filme, mas, no resultado final, valeu apenas a direção de fotografia de Emmanuel Lubezki, responsável, mais que o diretor, pelos longos planos sequencias sob luz natural em paisagens exuberantes. E o prêmio meio honorário de melhor a Leonardo di Caprio, com quem a academia se sentia em dívida.
- A Grande Aposta, que talvez merecesse mais que o prêmio de roteiro adaptado, aumentou o cacife do diretor de comédias sem maior brilho Adam McKay. Ele consegue traduzir, entre irônico e trágico, num estilo documentário em que as imagens parecem colhidas ao acaso, a complexa equação de um grupo de investidores que resolveu apostar contra a bolha do mercado imobiliário americano.
- Steve Carell, seu protagonista sequer mencionado nos prêmios de ator, foi um dos injustiçados da noite ao lado de Charlize Theron, ignorada entre as seis estatuetas surpreendentes de Mad Max – A Estrada da Fúria. Seu deslumbramento num longo vermelho de decote até a cintura, de uma beleza a anos-luz da média, só parece ter agravado a sensação de injustiça que mobilizou as redes sociais ao redor do mundo.
- Maior injustiça da noite parece ter sido, segundo o que se ouviu e se leu, premiar Writing’s on the wall, o tema de James Bond Contra Spectre, em detrimento da lindíssima e performática Til it happens to you, de Lady Gaga, para o documentário The Hunting Ground. Entre os injustiçados sequer indicados, os grandes diretores Ridley Scott (Perdido em Marte) e Quentin Tarantino (Os Oito Odiados). E Marília Pera bem que merecia ter figurado entre os mortos homenageados do ano. Ela fez mais sucesso nos EUA, com Pixote, do que o cineasta Eduardo Coutinho, lembrado no ano passado.
- Quando nada, Quentin Tarantino conseguiu, sem levar nada, fazer a academia se dobrar a Enio Moriconne num prêmio real por trabalho prestado. Até então, só tinha levado um Oscar honorário pelo conjunto da obra e sentimento de culpa da academia. O homem fez mais de 500 filmes. Quem quiser saber do que se trata sua genialidade, sem olhar os westerns italianos (Por Um Punhado de Dólares, O Dólar Furado…), deve procurar a trilha de A Missão, de 1986. Uma sinfonia que mistura sons indígenas de arrepiar.
- O apresentador Chris Rock deu novo ritmo à cerimônia e esculhambou com competência o protesto anacrônico do cineasta Spike Lee em favor de mais indicações para negros. Antes de uma montagem hilária incluindo negros em cenas dos filmes indicados (Woolpi Goldberg como faxineira no cenário profilático de Joy, por exemplo), mandou um improviso que soou como revanche para a plateia:
— Tenho certeza de que também não houve negros indicados naqueles anos. E ninguém protestava. Por quê? Porque tínhamos assuntos mais sérios para protestar. Talvez você estivesse ocupado demais sendo estuprada para se importar com o melhor diretor de fotografia. Quando sua avó está pendurada numa árvore, é difícil se importar com o melhor curta-documentário estrangeiro.
Foi o melhor da noite.
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