Técnico frio, metódico e centrado, o juiz Sérgio Moro senta-se hoje diante de seu adversário mais respeitável.
Compositor riponga de cabelo black-power da banda Bedengó, elogiada por Caetano Veloso nos anos 70, o marqueteiro João Santana virou jornalista dos bons.
Editor de pasquim em Salvador, nos anos 70, cobriu até guerra, a das Malvinas, em 1982. Chefiou sucursais e grandes equipes em quatro dos principais veículos de comunicação do país — Globo, Jornal do Brasil, IstoÉ e Veja — e esteve à frente da reportagem decisiva que derrubaria Collor em 1992: a do motorista Eriberto França que transportava dinheiro de propina do tesoureiro PC Farias até a secretária particular do presidente.
A convivência próxima com as mazelas do poder fez dele um cético para as boas intenções no mundo político, que achincalhou em seu único romance, Aquele sol negro azulado, escrito como catarse a partir de 1993, assim que deixou as redações convencido de que “jornalismo não dá camisa a ninguém”.
A narrativa escatológica e um tanto libidinosa, que cataloga 14 tipos de vagina e variados adjetivos para o pênis, como contou o jornalista Luiz Maklouf Carvalho no livro que alimenta esse artigo, achincalha deputados, senadores e juízes:
“O senador Pinheiro tinha paixão e culto profundo por suas próprias fezes. A importância do senador e de suas cagadas era tão grande que a mesa chegava a paralisar votações importantes no Congresso, apenas para que ele pudesse ir ao banheiro. (…) Em Brasília, não tenho dúvida, 594 deputados com a mesma mão na bronha da noite anterior assinando leis na manhã seguinte.”
Cerebral
Esse distanciamento crítico é o que parece ter feito dele o marqueteiro frio e cerebral, em oposição a seu ex e mais estético sócio Duda Mendonça, que tirou Lula do fundo do fosso político do Mensalão, em 2005, para reelegê-lo pouco mais de um ano depois.
É o gênio racional em oposição ao gênio intuitivo, como definiu certa vez o jornalista Manoel Canabarro, que trabalhou com ele em algumas de suas campanhas internacionais que fizeram seis presidentes.
— É antes de tudo um estrategista e isso é mais importante que a forma. Não adianta nada uma estética sedutora sem um pensamento estratégico correto e eficiente — diz o publicitário Fernando Barros.
Que conhece e antecipa os passos do inimigo, sem piedade de massacrá-los, chegada a hora. Seja o adversário do palanque que está assessorando, seja o colega adversário do ramo da publicidade que o acusa de jogar baixo.
— Quando João resolve atropelar, e fazer, entra com os dois pés — diz Marcelo Kertész, seu outro sócio na Polis.
O livro de Maklouf (João Santana – um marqueteiro no poder) relata as decisões impiedosas e até hoje suspeitas, tomadas sem hesitação e nenhuma crise de consciência, para destruir os candidatos Marina Silva e Aécio Neves contra Dilma Rousseff, no primeiro turno das eleições de 2014, e o candidato Gilberto Kassab contra Marta Suplicy, para a prefeitura de São Paulo, em 2010.
Criticado no caso Kassab, contra quem produziu uma peça maliciosa que sugeria desconfiança sobre sua identidade sexual, admitiu friamente que foi um erro técnico, não moral:
— Testamos em grupos e o comercial se mostrou eficaz e sem duplo sentido. Eu falhei, como comunicador, porque não podia ter produzido um material capaz de causar um efeito imprevisto.
Acusado pelo marqueteiro de Aécio Neves, Paulo Vasconcellos, de ter feito “uso profissional da baixaria”, devolveu que:
— Ele é que fez uso amador da mediocridade.
Violência
Pugilista frio dos adversários, no palanque ou no ringue da publicidade, não aceita que seja interpretado como diferente deles no quesito maldade. Acha-se apenas mais competente.
Lembra que Marina é quem começou a bater, embora “seu aspecto frágil, sua voz macia, permitiam que ela batesse com virulência sem parecer agressiva”, e que todas as pesquisas davam que a campanha de Aécio era a mais agressiva.
— O que não souberam foi bater à altura — chegou a dizer.
Sobre o famigerado vídeo em que destruiu Marina relacionando sua proposta de autonomia do Banco Central a pratos vazios na mesa do pobre, acusou-os de, antes de qualquer coisa, não ter tido competência para rebater:
— Se não responderam, foi por pobreza teórica, lerdeza técnica ou soberba mística.
A violência no marketing político, para ele, é antes um fato inexorável da vida, do qual parece ser mais vítima que agente:
— Há uma distância enorme entre a agressividade verbal e a física. A agressividade verbal, visual, icônica, simbólica, na maioria das vezes, sublima e afugenta a violência física. Ela é catártica em si mesma. A política é, ao mesmo tempo, a sublimação e o exercício da violência. Traz isso no seu corpo genético. Não foi a comunicação política que montou esse genoma.
Uma frieza, um espírito de cálculo e uma segurança absolutas que devem explicar também como chegou de cabeça erguida e deve ter orientado a mulher a fazer o mesmo na chegada à Polícia Federal, em Curitiba.
Como disse dele Nizan Guanaes, o outro baiano genial que prefere trabalhar com marketing comercial:
— Marketing político é UFC. O marqueteiro tem que ter estômago e os candidatos também. Eu não tenho. João Santana tem, e gosta. Por isso ele é o Anderson Silva.
Ainda não havia surgido algo ou alguém que pudesse dobrar sua espinha de ferro. A ver até onde vai diante de outro frio implacável, o juiz Sérgio Moro.
José Soares diz
Um profissional que presta serviços e que acha que o dinheiro compra tudo, perdeu o sentido do valor da vida. Nestes países onde ele elegeu presidentes, hoje impera a miséria, a violência, a fome. E o Brasil está neste triste caminho. Os dólares recebidos, são sujos de sangue e lágrimas daqueles que perderam tudo inclusive sua liberdade. Agora resta a esperança que ele permanece anos presos, e que juntamente que ele seus comparsas compartilhem a mesma cela. A justiça clama nas ruas. Fora Dilma, Fora PT, Fora Lula. Vão para Cuba, Venezuela, deixem este país. Vocês não são dignos de ouvir nosso hino
Fábio diz
Parabens pela coluna, temos que erguer uma estátua em homenagem a Seŕgio Moro, vamos acabar com esses PTralhas vagabundos.
Ramiro Batista diz
Oi, Antonio, muito obrigado. Desses elogios que esquentam a alma.
Antonio diz
Texto riquíssimo, parabéns!
Marcos diz
Juiz extremamente tendencioso, só bate em Chico e esquece de Francisco. Políticos corruptos fora do Governo não são denunciados e quando são ficam em segredo de justiça. A filha e a esposa de Eduardo Cunha já deveria estar presos
Esse é o Brasil tudo tem uma segunda intenção oculta. Acorda Brasileiro