Lembram-se de Monica Lewinsky? A estagiária da Casa Branca teve o que ficou conhecido como “relações impróprias” com o homem mais poderoso do mundo, debaixo da mesa de mogno talhado do Salão Oval, e inaugurou a era da humilhação global via internet, no final dos anos 90.
Na palestra O Preço da Vergonha, no TED, canal online dedicado a apresentações de 20 minutos, ela carpiu sua desgraça.
Explicitou a dor de ter virado objeto de achincalhe mundial na era inaugural das redes sociais, depois do vazamento de 20 horas de gravação de conversas íntimas, não bastasse ter sido obrigada a ouvir e confirmar algumas vezes sua autenticidade, perante as autoridades, num processo humilhante.
— Em 1998, eu perdi minha reputação e minha dignidade. Fui taxada de vagabunda, puta, vadia, prostituta, mulher-objeto e, claro, “aquela mulher”. Perdi quase tudo e quase perdi a vida.
Relata o caso de suicídio de pessoa próxima por bullying que reavivou todo o sofrimento de sua família e traça um quadro de como o cyberbullying ampliou o constrangimento que antes se estendia apenas à família, à escola e à comunidade:
— Online e tecnologicamente aprimorada, a vergonha é ampliada, incontrolada e tornada permanentemente acessível à comunidade online também. Milhões de pessoas anonimamente podem te esfaquear com palavras. Não há limite de quantas pessoas podem te assistir e te colocar numa prisão pública.
Voltei ao vídeo na semana em que o papa João Paulo II e Fernando Henrique Cardoso, bem como as respectivas amantes de seus relacionamentos virtuais ou físicos, sofreram diferentes graus de massacre por aquele tipo de desinformação e crueldade que é quase uma espécie de segunda natureza das redes sociais.
E complementados por aquele invariável tom conspiratório contra a grande imprensa, em geral acusada de sonegação por interesses escusos.
A grande imprensa sempre teve, de fato, uma relação mal resolvida com as amantes dos políticos, sem saber a hora de vasculhar seus armários. Quando algum caso sério vem à tona, fica-se sabendo que o mundo jornalístico e político de Brasília segurava vela para os casais há tempo.
Para ficar só em três casos:
- o dos ministros da Justiça e da Fazenda do governo Collor, Bernardo Cabral e Zélia Cardoso de Melo, que trocavam bilhetinhos amorosos por baixo da mesa das solenes reuniões de Ministério;
- o de FHC com a jornalista da Globo, Miriam Dutra, cuja crônica de passeios pela capital federal nos inícios dos anos 90, em companhia até de jornalistas, foi bem documentada numa grande reportagem da revista Caros Amigos, de 2000;
- o de Rosemary Noronha, a amiga de acesso privilegiado às caravanas internacionais de Lula, cuja relação de privilégios diplomatas e correspondentes sempre souberam.
O que se justifica pelos limites do respeito à vida privada, enquanto as estripulias dos dois pombinhos se limitam à troca de fluídos corporais sem maiores riscos para a saúde da República. Mas sugere traição ao leitor quando vêm à tona, quase sempre ao cabo de alguma chantagem política. Porque, sim, desde sempre, os casos emergem quando um adversário resolve chutar abaixo da linha da cintura e leva a imprensa junto.
Regido por uma mistura de regras de etiqueta e pragmatismo inevitável, esse balé de cumplicidade é, porém, quase nada perto do estrago de reputações que alimenta nas redes sociais e dos grandes negócios que suscita nos sites e revistas de fofocas.
Como diz Mônica Lewinsky, depois de enfileirar vários casos de massacres de reputação:
— A invasão dos outros é uma matéria prima que de forma eficiente e sem piedade é extraída, embalada e vendida com lucro. É uma indústria que remunera os que atacam e não mede o custo para as vítimas.
Um tipo de esporte sangrento que requer uma nova era de compaixão, como ela propõe.
Que de certa forma, acrescento, reduz a responsabilidade da grande imprensa. Como em quase tudo na internet, nesse item também ela vem perdendo terreno.
Francesco diz
. O(a) culpado(a) deve ser punido(a). Mas o achincalhe e a humilhação devem ser evitados. Às vezes o preço da pena vai além do justo.
Belzonte diz
O que aconteceu em Brasília envolvendo FHC Mírian, foi uma espécie de maldição de Dom Bosco. Explico: no século 19, o santo salesiano profetizou que seria uma criada uma cidade que hoje corresponde à Brasília, em que jorraria leite e mel. Leite é o que jorra à vontade, vide FHC, Renan etc e quanto ao mel, que nos adocica, vem a ser a nossa conhecida propina. Portanto, leite e mel jorram em Brasília, com predisse Dom Bosco.