Jennifer Lawrence tem apenas 25 anos, 21 filmes no currículo e reconhecimento como protagonista de arrasa-quarteirões como a série Jogos Vorazes, O Lado Bom da Vida (que lhe deu o Oscar) e agora esse Joy — O Nome do Sucesso.
Se fosse vendedora de um novo tipo de esfregão, é possível que ganharia algo como um Oscar de criatividade e vendas, como sua personagem no filme, uma mãe divorciada, desempregada, endividada, numa casa cheia de parentes disfuncionais que dependem de sua impressionante capacidade de resistência.
É no que andei pensando ao sair desse drama entre pesado e divertido sobre a história real de Joy Mangano.
A empreendedora americana moveu céus e terras para criar, produzir e convencer investidores, compradores, redes de lojas e um canal de TV sobre a revolução de seu invento, aquele esfregão de fios que podem ser torcidos numa rotação no cabo de plástico, sem que a dona de casa precise enfiar as mãos no balde.
O filme é a história de sua saga aos tropeções para peitar investidores desonestos ou reticentes, até conseguir o milagre de vender quase 50 mil esfregões numa noite, naqueles comerciais longos, dos canais de vendas tipo Shoptime, onde um apresentador fala sem parar enquanto as vendas vão se processando por telefone, ao vivo.
Como a primeira demonstração do produto por um apresentador tradicional fora um fiasco, ela conseguiu convencer a direção da emissora de que ela mesma, de cara limpa, conseguiria convencer o país de seu invento. Sem maquiagem, sem colar e sem terninho de executiva, vestida como dona de casa em mangas de camisa.
Me lembrou Ron Popeil, herdeiro de uma linhagem de inventores e vendedores de pequenas utilidades domésticas vendidas no calçadão que acabam, à custa de muita obsessão, num movimento de larga escala na TV. Ele também se propôs e conseguiu bater a meta de 50 mil unidades de sua churrasqueira elétrica Showtime, de 129 dólares, em apenas uma hora.
Do tipo que acorda de madrugada, vai até a fábrica insone e toca no braço de seu engenheiro com uma ideia holística, tipo: “precisamos de uma forma melhor de fatiar repolho”, como conta Malcolm Gladwell num de seus ensaios geniais para a revista The New Yorker.
— Olhem bem para isso — diz enquanto ergue um saquinho de temperos, em rede nacional, entre churrasqueiras torrando frangos dourados, como quem exibe um vaso Tiffany, na linguagem maravilhada de Gladwell.
Joy concentrou todas as suas energias e a dos outros à sua volta para fazer seu escovão com um único fio de 90 metros, sem emendas.
Esse para mim é o filme que não foi feito em Joy pelo diretor David O. Russel, mais preocupado com histórias de superação em que a família é o problema, como O Vencedor e O Lado Bom da Vida.
Não a capacidade de anônimos darem a volta por cima no país das oportunidades, mas a capacidade de comunicação que nasce da adversidade. Como a extraordinária competência para comunicar produzida a fórceps faz anônimos dobrarem multidões.
Que advém, com se diz, da fome com a vontade de comer. Têm em comum uma história familiar difícil, uma obsessão por dar a volta por cima e uma ideia fixa que os cegam para toda a dificuldade em volta. E uma paixão pelo detalhe que torna seus produtos, tanto quanto eles, diferentes.
Meio como Jennifer Lawrence, aos 25 anos, já indicada três vezes ao Oscar. Ninguém chega lá sem essa obsessão.
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