Quando se ergueu para fazer o discurso fúnebre de seu irmão Steve Jobs, Mona Simpson não falou de sua competência empresarial, de suas tecnologias revolucionárias, de seu sucesso na conquista de novos mercados. Ao invés do homem que inventou o iPhone, ela procurou demonstrar que o amor “foi a suprema virtude” do irmão, marido e pai que conhecia o verdadeiro valor das coisas que a tecnologia afastava.
— Ele era um pai presente para cada um de seus filhos. Preocupava-se com os namorados de Elisa, as viagens de Erin e a segurança de Eve em meio aos cavalos que ela tanto adorava. O que o motivou mesmo foi o amor. O amor foi sua suprema virtude, seu supremo deus.
Essa ideia antiga, dita de outra forma, de que o que deixamos de real — as paixões, nossas relações, nossas doações aos amigos e à família — não está no currículo é o centro de A Terceira Medida do Sucesso, bestseller da americana Arianna Huffington.
Ela o pariu em 2007, depois de um colapso nervoso e um nódulo que a fizeram reconsiderar a vida frenética que ocupava todo o seu tempo à frente do The Huffington Post, o site jornalístico mais acessado no mundo. Descobriu um novo significado de vida e se transformou numa bem ouvida palestrante de uma nova medida do sucesso, a terceira, que bem pode ser também a terceira revolução feminina.
Essa nova medida vem depois e substitui o modelo Dinheiro e Poder, que até então moveu a cultura ocidental com estresse, privação do sono e esgotamento.
— Todas as minhas conversar pareciam girar em torno dos mesmos dilemas: o excesso de estresse, o excesso de trabalho, o excesso de conexão em mídias sociais e a falta de conexão com nós mesmos e com os outros. O espaço, os intervalos, as pausas, o silêncio — tudo o que nos ajuda a recarregar as baterias — praticamente desapareceram da minha rotina e da de tantas pessoas que eu conhecia.
Ao contrário, ela se sustenta em quatro pilares: bem-estar, sabedoria, admiração e doação. Colocar a saúde como prioridade, ter sabedoria para conciliar intelecto e paixão, aprender a admirar as pequenas coisas que nos cercam e fazer trabalhos voluntários como formas de se conectar com o mundo e as pessoas.
Tendência — Arianna despeja um caminhão de pesquisas para provar como uma vida equilibrada entre trabalho e vida pessoal pode ser mais produtiva (a produtividade é maior em países em que as pessoas têm menor carga de trabalho), alinha provas de que como a falta de sono decente comete estragos maiores do que os cotidianos (está provado que as tragédias de Chernobyl e da explosão da Challenger estão relacionadas a privação de sono) e lista vários exemplos de como as empresas estão aderindo ao novo modelo.
Na ideia de adaptar o trabalho ao homem e não o contrário, sua empresa instalou academia e salas de repouso, passou a dar aulas aulas de medicação, respiração e ioga, afastar o funcionário da escrivaninha na hora do almoço, encorajá-lo a tirar férias e a desobrigá-los de checar e responder e-mails depois do expediente e nos fins de semana.
— Muitos achavam que os outros poderiam pensar que eles estavam fugindo de suas obrigações quando fosse até as salas de repouso tirar uma soneca. Mas fizemos questão de esclarecer que estar sempre esgotado, sem fazer uma pausa para recarregar as baterias, é que deveria ser criticado.
A tendência, que ela veio a enxergar — como a vida — depois de sua experiência traumática, já contamina 35% das companhias de grande e médio porte nos EUA, como Apple, Nike e Procter & Gamble, que oferecem algum tipo de redução de estresse, e transparece na preocupação em boa parte das 100 melhores empresas para trabalhar da Fortune.
O Google oferece aos funcionários um programa de treinamento de atenção, autoconhecimento e desenvolvimento de hábitos mentais positivos. Depois de perceber uma conta de 1 bilhão de dólares anuais com assistência médica, a rede supermercados Safeway passou a oferecer incentivos financeiros para que os funcionários perdessem peso e controlassem a pressão e os níveis de colesterol.
Revolução — É uma revolução. E feminina. Não só porque o modelo ocidental Dinheiro & Poder é essencialmente masculino. Mas porque só a mulher é capaz de deixar o emprego por não se sentir realizada ou para cuidar da família. Uma pesquisa também americana diz que 43% das mulheres que são mães deixarão seus empregos e cerca de 75% voltarão ao trabalho, mas não em tempo integral.
— Sheryl Sandberg, vice-presidente do Facebook e autora de Faça Acontecer, declarou publicamente que sai do escritório às 17h30 para jantar com seus dois filhos e pequenos e que encoraja os outros a adequar seus horário de trabalho às suas necessidades, proporcionando mais tempo para suas famílias e para si mesmos.
E terceira, por se tratar da mais importante novidade que as mulheres dão à civilização depois da lutas pelo sufrágio eleitoral, nos anos 30, e pela liberdade sexual, nos anos 60.
— Nossa ideia atual de sucesso, segundo a qual devemos trabalhar até morrer, foi criada por homens numa cultura dominada por homens. Mas esse modelo não funciona para as mulheres e tampouco para os próprios homens. Para redefinir o sucesso como algo além de dinheiro e poder, quem pode iluminar o caminho são as mulheres. E os homens, livres da noção de que a única via para o triunfo passa pela Estrada do Ataque Cardíaco, vão aderir agradecidos.
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