Leio que a fêmea do Aedes Aegypti coloca alguns milhões de ovos que podem sobreviver ressecados até por 450 dias, gera em média 1.500 mosquitos da dengue e pica em média 25 adultos. Uma vez dentro do organismo, dribla as defesas, destrói de uma vez só os milhares de soldados brancos da corrente sanguínea e debilita o corpo humano até quase a morte.
Donde que parece risível embora cheia de boas intenções a proposta do Exército de escalar 220 mil homens para combater essa infantaria que se multiplica em números exponenciais a cada fim de tarde com potência para abater até 25 inimigos por cabeça.
Remete à ideia de um exército bancaleone armado com alfinetes visando o olho do inimigo no meio da floresta, à noite. Ou a um soldado solidário, armado com um jato de inseticida contra uma multidão de mortos vivos em filme de zumbi.
Ou ao corruptus, esse vírus solitário cheio de algumas milhões de intenções que podem sobreviver por até quatro anos dentro de uma das mais de 5 mil prefeituras do país, se espalham por todas as instâncias da administração pública, nos estados e na federação. Uma vez dentro do organismo público, dribla as defesas burocráticas, destrói as diversas formas de controle e debilita o corpo social, produzindo alguns milhares de outros corruptuzinhos.
Daí que a ilusão de que possam ser combatidos pelos atuais meios de erradicação legal remete à imagem de um Sérgio Moro sozinho, com um jato de inseticida encarando uma multidão de zumbis se multiplicando em frações exponenciais, na nossa noite sombria.
Resta então arranjar um culpado. Ou a população que não limpa a calha, o vazinho, o balde. Ou o ministro da Saúde que fala verdades. Ou o eleitor que vota mal. Ou o mordomo.
Estrutura para pesquisa que é bom, nada. Já se vão 30 anos que nenhum dos nossos laboratórios públicos, degradados de equipamentos e pessoas, produz qualquer conhecimento relevante sobre o mosquito que não esteja em enciclopédia.
Dengue e corrupção, como se falava da saúva e pouca saúde no passado, os males do Brasil são. A piada é velha, mas como vale.
Ana Goulart diz
Mto bom!