Do que leio, ouço e presumo sobre a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha, pela ordem:
1. Como disse Jurista Miguel Reale Júnior no Uol e ensinam os manuais sobre as motivações subterrâneas da democracia, Cunha agiu certo por linhas tortas. Ele decidiu pelo impeachment ao cabo de um processo repelente de chantagem, mas teve dados técnicos consistentes para embasar seus interesses inconfessáveis.
2. O erro técnico da presidente é dos mais graves. Ela alterou o Orçamento, remanejou verbas por decreto, sem ouvir o Congresso. Pudesse, o governo gastaria do jeito que quisesse, o Congresso revogaria sentenças dos juízes, os juízes demitiriam ministros da Esplanada.
3. É uma firula contábil como as manobras do governo Aécio Neves em Minas para incluir despesas da Copasa em gastos com Saúde e Saneamento. Acostumado a trânsito de dinheiro de corrupção em cuecas e carros fortes, a maioria dos brasileiros e sobretudo os defensores de Dilma acham insuficiente, mas não é. É da essência do regime.
4. O processo é político e trabalha com percepções. Como no caso de Collor, quando a fragilidade do governo chega a grau zero de credibilidade, basta um pequeno erro padrão Fiat Elba, dos tantos que os governantes cometem, para justificar o tombo. Collor foi inocentado depois do STF, mas já era tarde. Se Dilma precisar que arranjem mais algum erro para justificar o impeachment, pode ficar tranquila que acharão. Até porque, a se conferir no noticiário, há.
5. Tanto é político que Dilma reagiu com argumentos políticos e não técnicos. Ao insinuar que o enrolado com corrupção é Cunha e não é ela, tenta ganhar a batalha de percepções que vai definir o processo daqui para frente.
6. Os dois sabem que o processo é político politicamente agiram o tempo todo. Ele negociou e chantageou, transitando entre Situação e Oposição, até sentir que o governo não iria salvá-lo da cassação no Conselho de Ética. Embora negue participar de negociatas, o governo manobrou até o limite para salvá-lo em troca da não aceitação do impeachment.
7. É possível que ambos não queriam correr o risco. Ele preferiria que fosse possível salvar o pescoço e ela que o processo de impeachment não fosse detonado. Quebraram todas as pontes e se renderam – ou foram vítimas – das circunstâncias e de outros atores, como os deputados lulistas que não morrem de amores por nenhum dos dois e têm outros interesses ainda não totalmente esclarecidos.
8. O risco é embarcar num processo sem controle, que ganha metabolismo próprio e um novo ator poderoso: o povo nas ruas. Engana-se o PT e seus satélites nas organizações sociais de que vai conter a avalanche que sustenta os movimentos espontâneos que foram às ruas pedir o impeachment e tirou do partido o protagonismo das ruas. Ela vai engrossar. E pode ser determinante.
9. Como diria Collor, “o tempo é o senhor da razão”. Se o processo demorar, como é possível que demore, e o governo continuar recuperando o controle da base aliada, como vem conseguindo, ele pode se procrastinar e cansar as ruas. No fim do cansaço, fica tudo como está.
10. Como disse o veterano senador Ronaldo Caiado, como disse o veterano Jarbas Vasconcellos, como diria eu e Chico Buarque de Holanda O que Será?, que andam sussurrando em versos e trovas, combinando no breu das tocas, que anda nas cabeças, anda nas bocas?”.
Seria melhor que os dois saíssem. Juntos e rápido.
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