Contemplo a presidente Dilma Rousseff nessa abulia sem qualquer capacidade de ação, nem heróica e nem covarde, enquanto o governo rui a seus pés, e fico pensando se ando no mesmo.
Que ela é mais uma das projeções de minha crise de identidade.
Quem me acompanha, deve concordar comigo que mandei bem numa série de artigos, consistentes e quase diários, durante o processo eleitoral. Mas que, findo, apesar de tudo ter piorado e estarem pipocando inconsequencias à procura de um bom analista, eu me esvaziei.
Fui reduzindo a periodicade dos artigos, fui mudando de assunto, fui caminhando num sentido inverso ao dos fatos.
Por quê?
Minha tese, sujeita a muita análise de travesseiro e crises de identidade, é que me faltam bons personagens, protagonistas ou antagonistas, com estratégias ou falta delas, visíveis, abundantes na campanha eleitoral.
Minha vocação meio mal resolvida de escritor, comunicador e estudioso de política, tem mais interesse em personagens reais ou fictícios, suas grandezas e suas misérias, do que a mixórdia que produzem.
Confesso que o escândalo da Petrobras me interessa menos pelas falcatruas envolvidas do que por tentar entender que desígnios e desvios de caráter – e por quê – seus personagens chegaram onde chegaram, a ponto de ignorar qualquer risco de punição, dos homens ou da história.
Sentido
O problema é que os personagens principais, a começar por Dilma, carecem de sentido e propósito, sem um comportamento, uma estratégia ou mesmo um fracasso que faça sentido com o que aprendi em mais de 30 anos de aprendizado de literatura, comunicação e política.
1. Dilma não tomou uma medida que fizesse sentido, nem com seu passado nem com seu futuro, desde a eleição.
2. Seu principal opositor, Aécio Neves, saiu com um embornal de 50 milhões de votos das urnas para ficar por aí repetindo a si mesmo, como se achasse que é possível fazer quatro anos de oposição apenas com um mantra. Sua barba temporona de resgatado de uma ilha deserta parece também um traço de crise de identidade.
3. Seu principal articulador, Aloizio Mercadante, bigode de guerrilheiro, entrou numa briga sem possibilidade de vencer. Ao contrário, só de acirrar o ânimo do adversário, que afronta qualquer cartilha estudantil de habilidade política.
4. Eduardo Cunha, o presidente eleito de uma Câmara dos Deputados que historicamente serviu ao governo, faz um incompreensível balé de adesão oposicionista que não está em nenhum compêndio de história e teoria política.
5. Seu padrinho Lula, o protótipo do líder político para todas as crises, se enrosca como caracol e engole a saliva que entre outros tempos mobilizou multidões ou mesas de negociação.
6. E o STF, que antes soltava todo mundo, agora nega todos os habeas corpus. Assim como os empreiteiros, que nunca ficaram presos, assim estão.
Por acaso, seis.
Sabe aquela história dos Seis Personagens à Procura de um Autor, invadindo a coxia para tentar provar que existem? É meu caso, ao inverso. Um autor à procura de seus personagens, na mesma tentativa vã de entender a relatividade de tudo. Do teatro de Brasília, no caso.
Chega um momento que nem literatura e nem comunicação oferecem respostas para tanta tragédia.
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