Dilma Rousseff optou não ter um programa de governo nas últimas eleições.
Primeiro, para se preservar das críticas que viriam ao que defende de fato, principalmente, como ela diz, “no que se refere” aos postulados de seu partido: arrocho das leis trabalhistas, maior controle do banco central, financiamento público de campanhas, regulação da imprensa, entre outros.
Segundo, para se adaptar ao discurso mais conveniente do adversário a enfrentar: tanto anti banqueiro quanto possível se enfrentasse Marina Silva, tanto anti liberal quanto possível se enfrentasse Aécio Neves.
E, terceiro, como não teria que cumprir o que escreveu, teria espaço livre para dizer tudo ao contrário depois de eleita.
O problema desse tipo de política é que vamos para um terceiro turno de eleições barulhento, numa situação esdrúxula: a grande imprensa cobra uma pauta diferente da que o eleito defende.
A pauta da grande imprensa, como sabemos, é a liberal clássica, defensora no momento da racionalização da máquina pública a custo de cortes severos, contenção de consumo via aumento dos juros e desenvolvimento pela desregulação sem medo do excesso de controle legal sobre a iniciativa privada.
Ela, Dilma, como sabemos, é ideologicamente intervencionista e defende sem programa certa frouxidão com a inflação para não desaquecer o consumo e o nível de emprego.
Se ela tivesse se apresentado com um programa, poderia dizer claramente:
— Olha, no que se refere ao meu governo, a sociedade brasileira me elegeu para cumprir esse programa que apresentei, no qual acredito, e tenho obrigação de cumpri-lo. A imprensa que fale o que quer, mas tenho que dar satisfação é a quem me elegeu.
Diante de tal clareza, a imprensa poderia perfeitamente continuar a defender sua pauta, mas ficaria obrigada a ressalvar que a presidente tem uma, que foi aprovada nas urnas e que seria preciso dar tempo a ela para ela mostrar seus resultados.
E o segundo problema é que, como precisa se adaptar ao noticiário e à pressão política dele derivada, precisa de novo se adaptar às novas circunstâncias e sair defendendo o contrário do que acredita.
O que só piora o quadro: o de uma presidente que se elegeu com uma pauta mas que vai governar com outra. Que não teve programa e agora vai governar com um programa que é o do adversário que ela tanto criticou.
Quer dizer: pelo que acredita e pelo que a imprensa defende, terá que ser menos Dilma e mais Aécio, como bem lembrou José Fucs, nesse artigo em seu blog na Época.
Ou por outra: a sociedade brasileira elege uma e leva outro.
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