Sobre o debate Aécio e Dilma na Band, quente, desengonçado, repetitivo e quase autista, meio conversa de surdos e briga de camelô, em que os dois podem ter saído com a sensação de derrota:
1. Aécio riu demais e Dilma, de menos. Ironia em excesso passa por desrespeito e pouca seriedade. Mas é difícil acreditar que ela possa conquistar mais eleitores do que os já tem com a carranca que não se move nem quando é chamada de leviana.
2. Os dois foram com discursos prontos e cutucadas preparadas, armados para responder en passant e partir para o ataque. O que os fez enfiar Pronatec no meio de meritocracia, pesquisa no lugar de Saúde, porto de Cuba no meio de creche e por aí afora. Tipo dois camelôs na esquina, de megafone, disputando clientes.
3. Aécio é algumas milhas de voo superior em articulação gramatical e sabe para onde olha. Dilma capenga, tateia, gagueja e mexe com os olhos em busca do raciocínio. Numa televisão sem som, ele parece alguns palmos mais seguro.
4. Reativo, porém, ele pareceu mais afobado do que costume, num tipo de ironia quase soluço de quem simula mal tranquilidade. Acabou repetitivo a ponto de conseguir pouco efeito com as denúncias da Petrobras e ter reagido mal à questão de nepotismo da candidata de um partido especializado em aparelhar o Estado
5. Reativa, como de costume, ela compensa suas deficiências com agressividade e alguns truques bem ensaiados, como a citação do portfolio de escândalos mal explicados da era FHC. Entoou um bom recurso retórico ao se referir a acusados de cada item da lista com um: “estão todos soltos”, “estão todos soltos”, “estão todos soltos”.
6. Num debate em que a lambança na Petrobras e o ataque do PT à Justiça se afigurava como possibilidade de jogar Dilma nas cordas, foi ela quem o encurralou com dados desfavoráveis de seu tempo no governo de Minas e sua derrota eleitoral no Estado. Outra vez, ele mal teve rapidez no gatilho para lembrar que desmoralizou a candidata e o partido em São Paulo.
7. Por alguma razão que só ele e seus conselheiros explicam, Aécio evitou o discurso anti PT. Por alguma razão que a carta elogiosa que escreveu a FHC explica, ela evitou falar que o governo dos tucanos quebrou o país. Tendo entrado para se defender e tendo conseguido pelo menos confundir, Dilma pode ter saído no lucro.
PS:
No meio do primeiro debate do segundo turno entre os presidenciáveis depois da ditadura militar, em 1989, Fernando Collor de Mello citou do nada que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de ostentar pobreza, tinha um daqueles sons 3 em 1 de gente abastada.
Era um recado indireto para fazer o adversário saber que ele seria capaz de explorar no ar a fofoca que corria em Brasília de que Lula havia dado esse tipo de luxo à época para uma amante.
Dilma não deve ter feito à toa, ontem, a pergunta sobre o que o candidato Aécio Neves acha de violência contra a mulher.
O interesse dela seria o mesmo, de fazê-lo saber que ela seria bem capaz de usar a maledicência de que teria dado uns safanões na namorada, numa festa. A notícia dada pelo colunista Juca Kfoury foi contestada, mas nunca devidamente esclarecida.
A pegadinha, um tipo de golpe mais baixo dos que aparecem em cena, é típica de um modelo de programa que se desvirtuou há muito tempo.
Que é ótimo para desmontar adversários e uma tremenda ilusão para quem espera mais do que isso.
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