Sobre o resultado do primeiro turno das eleições 2014, em que Dilma Rousseff teve 41,59% dos votos e Aécio Neves, 33,55%:
1. Dilma ganhou em 12 estados do norte/nordeste, dois do sudeste (Minas e Rio de Janeiro) e um do sul (Rio Grande do Sul). Juntou os eleitores de menor renda do norte e os de classe média à esquerda, característicos e determinantes de eleições no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.
2. Aécio levou os nove estados mais ricos, do sul, do sudeste e do centro-oeste, Roraima e o Distrito Federal. Perdeu em Minas, mas nunca teve tanto voto contra o PT no Estado (diferença de 3,7%, 400 mil votos), e foi empurrado pelo mais de 4 milhões de votos sobre ela em São Paulo.
3. Dilma não passou significativamente do patamar de 40% que um estudo do Datafolha estabeleceu como seu teto e se repetiu nas últimas pesquisas. Aécio pegou a maioria dos indecisos e, de volta, os votos úteis anti PT que tinham ido para Marina quando se pensou que ela teria mais chances contra a petista.
4. Aécio foi mal no nordeste, como é tradição do PSDB, mas, pela primeira vez, enfiou uma cunha lá com as alianças com o PSB e, agora, possivelmente, Marina. Da mesma forma que enfiou com ela outra cunha em São Paulo e no Rio de Janeiro. Dilma afundou em São Paulo, mas levou de vantagem Rio, Minas e Rio Grande do Sul.
5. O calcanhar de Aquiles de Aécio é seu próprio estado, menos pelos votos do que pelo discurso. Como vai dizer que seu governo e os de seus aliados foram competentes se a população não os aprovou? Outro nó é o Rio de Janeiro, onde Dilma ficou com os dois palanques do segundo turno: Marcelo Crivella e Pezão. O calcanhar de Dilma é São Paulo, berço do PT, agravado pela vitórias impactante de Geraldo Alckmin para governador e José Serra para o Senado.
6. Aécio e Dilma tem dois grandes monstros a enfrentar no segundo turno. Ele, a artilharia do PT para o que chamam de “desconstrução” da sua imagem. Ela, o vazamento dos depoimentos do doleiro Alberto Youssef, que acaba de fazer acordo de delação premiada sobre a origem e o destino da dinheirada que rolou no escândalo da Petrobras.
7. Há todas as dúvidas para onde vão os votos de Marina, mas não seus apoios. Aécio tem mais trânsito com o PSB, por conta de alianças que costurou com Eduardo Campos, que já começam a se manifesta em seu favor e podem arrastar Marina junto. Se há dúvidas de que Marina declare apoio a Aécio, há nenhuma de que jamais apoiará Dilma – sua inimiga figadal e cabeça da pancadaria contra ela no primeiro turno.
8. A meninada que foi às ruas e apoiou Marina nas redes sociais tem mais cara de Luciana Genro, a quarta mais votada. É a mais resistente tanto a Dilma quanto a Aécio. Deve engordar a votação de nulos.
9. O PT continua à frente de votos, ganhou em três estados e pode chegar a cinco no segundo turno. A maioria no norte/nordeste. Mas é o PMDB, com 10 estados, que vai comendo o governo pelas bordas.
10. As pesquisas captaram bem todos os movimentos de mudança desde a queda do avião de Eduardo Campos, mas estimaram mal a acelerada de Aécio e as viradas do PT na Bahia e do PMDB. Na véspera, a diferença de Dilma sobre Aécio era de 18%. Se as levasse a sério, ele teria feito corpo mole semanas antes e sua militância cruzado os braços no domingo de manhã.
PS – Três grandes aprendizados do primeiro turno:
- Aécio e Lula não elegem mais, como não elegeram, seus postes: Pimenta em Minas e Padilha em São Paulo.
- Falta de clareza derruba candidato: Marina era muito tucana para o eleitor petista e muito petista para o eleitor tucano.
- A batalha é mais de percepções e afinidade com o eleitor que de mérito. Escândalos feios como a falta de água em São Paulo e de decência na Petrobras não mudaram a vida de Geraldo Alckmin (eleito no primeiro turno em São Paulo) e nem de Dilma.
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