Sobre o empolgante debate da Globo com os candidatos a presidente da República:
1. Dilma ignorou Marina e escolheu Aécio como adversário de segundo turno. É com quem se sentia/sente mais segura e tranquila, como se já estivesse no segundo turno com ele. Chegava a escandir meio cantado o seu nome – Can-di-da-to-a-é-cio-ne-ves.
2. Não foi de rosa claro à toa. Dominou a agressividade, foi mais assertiva, mais propositiva e desinteressada em brigas. Não era com ela. Até divertida. Quase simpática. O que, no seu caso, é muito. Tem menos jogo de cintura, manha e segurança que os outros dois, mas é notável como contorna suas dificuldades com agressividade e excesso de informação.
3. Aécio começou dando um tiro no pé, ao tentar fazer Marina de escada para bater no mensalão do PT e acabou ouvindo de volta uma dura comparação com sua atitude em relação ao mensalão mineiro. Mas praticamente centralizou o debate, ajudado por Dilma e pelas escadas de Pastor Everaldo e Levi Fidélix.
4. Nunca esteve tão seguro e redondo nos argumentos. Dançou sobre as denúncias de corrupção, o uso da máquina estatal pelo PT e os preconceitos ideológicos que emperram as concessões. Defendeu com brilhantismo o Plano Real e a construção da estabilidade para tudo o que veio depois, mesmo quando parecia que Dilma o havia encurralado com os maus índices de crescimento e inflação da era FHC.
5. Dois grandes momentos de Dilma: dizer a Aécio que ele trata com leveza a questão da privatização, ignorando equívocos do governo FHC; lembrar a Marina que seu diretor do Ibama, quando ministra do Meio Ambiente, também foi demitido por corrupção e nem por isso ela a acusou de omissão. O grande momento de Aécio, entre tantos, foi chamar Luciana Genro de leviana quando parecia encurralado por ela numa questão de para-queda: o aeroporto de Cláudio.
6. Marina, ignorada por Dilma e pela polarização com Aécio, foi previsível e sem chances de provocar algum embate ou algum efeito retórico ou cênico, como os tantos que teve Aécio. Acabou mal mesmo quando, provocada por Dilma, teve espaço para explicar sua proposta de banco central independente. Dilma explicou melhor que ela.
7. O desempenho sem tons de Marina se refletiu em seu baixo nível de menções a seu nome no Twitter, 94 mil contra 391 mil de Aécio, em 1h18 minutos, segundo este levantamento do portal G1. Dilma, rosa e light, ficou próxima a ela, a fim de paz, com 97 mil.
8. O debate teve deliciosas coincidências nos temas e personagens escolhidos: Levi Fidélix com Eduardo Jorge e Luciana Genro sobre gays, drogas, aborto. O embate dos três mostrou o quanto esses programas seriam bons se pudessem ser livres, de embate solto, mediado por um bom apresentador que pudesse cutucar os outros candidatos sobre o mesmo assunto. Um modelo sem regras rígidas que acreditasse no discernimento do telespectador para reparar injustiças e favorecimentos.
9. Luciana Genro, a mais articulada, chega a ser um argumentadora brilhante. Seria uma grande candidata se defendesse causas afinadas com o que acredita a média da sociedade num sistema democrático e não a meia dúzia de amigos que demoniza quem pensa diferente e sonha com empresários e banqueiros debaixo da cama. Peca também pela provocação gratuita.
10. Eduardo Jorge… bem, Eduardo Jorge é aquele cara para a gente tomar cerveja no fim do expediente, sonhar com um futuro justo e falar mal de todo mundo, em gestos largos e desbragados. Mas sem ofender.
PS – Dilma pode estar escolhendo o adversário errado.
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