Uma das mais consagradas das 22 leis do marketing consolidadas pelos americanos Al Ries e Jack Trout é que é melhor ser primeiro do que ser o melhor.
É fácil saber, por exemplo, quem fez a primeira travessia do Atlântico em voo solo: Charles Linderberg. E quem foi o segundo? O desconhecido Bert Hinkler fez um voo mais rápido e mais econômico, mas nunca mais foi visto na história.
É o caso de Dilma Roussef.
Não é só pela exuberância de seu programa eleitoral que ela demonstra fazer um governo muito superior ao de Lula, em todos os aspectos, mas é ele quem passará à história como o líder que abriu o governo para os pobres e de quem a grande massa da classe C pra trás se sente órfã.
Suas virtudes:
- Seu balanço de obras e resultados sociais são mais vistosos do que os de FHC e Lula juntos,
- conseguiu manter a economia e o nível de emprego aquecidos e conter a inflação, ainda que em patamares perigosos, apesar das dificuldades internacionais, e de certa forma desmoralizar a análise tradicional do corte como premissa de desenvolvimento,
- a situação econômica e social é a melhor em quatro décadas e vem, na verdade, apenas “desmelhorando” desde 2012, como diz esse artigo pertinente de Vinícius Torres Freire,
- reduziu a corrupção (o desmando na Petrobrás não é obra dela: quando entrou, foi desautorizando contratos, relações e nomeações suspeitas.
- conseguiu aprovações no Congresso retalhando o governo com os partidos, mas sem comprar deputado em dinheiro vivo como seu padrinho,
- embora represasse os preços da Petrobras para fazer populismo, deu autonomia ao Banco Central para aumentar os juros,
- e, institucionalmente, peitou o ambientalismo infantil que atravanca obras, limitou a sanha de criação de reservas indígenas, conteve os ímpetos petistas de controlar a imprensa, passou a tratar o Legislativo, o Judiciário e a imprensa de forma civilizada.
Seu problema:
Seu problema está na desordem das contas públicas e no que os economistas chamam de falta de coragem para fazer as reformas estruturais e cortar gastos.
De fato, para conseguir um superávit malandro, fez uma bagunça na contabilidade pública que arrebentou com o saneamento das contas que FHC havia conseguido lá atrás. Como bem demonstrou Míriam Leitão,
– A Eletrobrás deve à Petrobras, pegou dinheiro emprestado no Banco do Brasil e na Caixa, para pagar apenas uma parte e pendurou o resto. O Tesouro não tem repassado à Caixa todos os valores devidos para pagar a Bolsa Família e seguro desemprego. As distribuidoras de energia elétrica, que são empresas privadas, receberam empréstimos do Banco do Brasil, Caixa, bancos estaduais, BNDES e bancos privados em operações financeiras intermediadas por uma Câmara de empresários, por ordem do governo, e tendo como garantia o aumento futuro da tarifa. O Tesouro deve bilhões ao FGTS e ao FAT. O BNDES deve R$ 400 bilhões ao Tesouro.
Sem coragem, tempo ou disposição para perder tempo consertando máquina pública, vai empurrando os problemas e caçando resultados mais vistosos. Como seu padrinho e qualquer prefeito do interior, não é boba de ficar fazendo obra que fica debaixo da terra e ninguém vê.
Em seu favor, se diga que não é fácil arrancar resultado de uma máquina paquidérmica, inchada nos lugares errados e vazia onde precisa. Menos ainda cortar funcionário num sistema em que demitir um office-boy requer processo administrativo complicado e sem efeito.
O maior rombo está de fato na Previdência, que alimenta um insustentável sistema único de saúde onde todo mundo mama, do pobre na fila aos donos de hospitais. E onde nenhum candidato sério teria coragem de dizer que vai cortar e onde.
Sobre os 39 Ministérios, numa máquina podre dessa, tanto faz ter 20 ou 50. Diz mais a problema de gestão do que a gasto. Os mais de 22 mil decantados funcionários de confiança fazem menos mal ao Orçamento, porque correspondem a índice mínimo dele, do que ao aparelhamento perigoso do Estado.
Sua falha mais grave:
Nisso, está o pior e a maior contradição de seu governo. Apesar de sinalizar para um país moderno, aberto à livre iniciativa e aos valores consagrados da democracia, ela tem se mostrado cada vez mais afinada com o partido que adotou na velhice.
O PT desconfia do empresariado, vive propondo mecanismos de substituição do Congresso pela vontade popular e vê com simpatia as invasões dos movimentos sem teto, sem terra, sem casa. Nenhum outro bate como ele nas instituições consagradas desse modo de vida que elegeu o sistema democrático cristão ocidental defendido por ela. A desmoralização do STF é só um dos bons exemplos.
Daí deriva a grande má vontade com ela e seu governo, na imprensa e naquela faixa de 15% que está com Aécio Neves. Como eu já disse em outro artigo, como querer que a imprensa e essa faixa de formadores de opinião goste de seu governo se seu partido ataca tudo o que ela acredita?
Veja o artigo aqui: Por que, como diz Lula, a imprensa não gosta do governo do PT?
E a se perceber sua afinidade e ênfase com a truculência do partido contra Marina Silva, ela vem demonstrando como pode ser tão má como ele. E assustando cada vez mais.
Gerson diz
Na realidade, fica valendo o que o povão, que nada conhece de política, diz: “Este país não tem jeito”