Os três principais candidatos à presidente para as eleições de outubro levam acima das cabeças, como uma auréola, o fantasma de seus três padrinhos, com suas virtudes e seus fantasmagóricos discursos do passado.
Aécio Neves carrega o ectoplasma de Fernando Henrique Cardoso, o chamado príncipe dos sociólogos e da teoria da dependência, mas já, a seu pedido, escrita e esquecida. Seu alarido retumbando pelo ar é o liberal do Estado enxuto: cortes de ministérios, racionalidade administrativa, responsabilidade fiscal, enquadramento da máquina pública e mérito no preenchimento de cargos.
Dilma Roussef leva o de Lula, o pai dos pobres, o teórico do imposto alto para bancar os pobres e do subsídio farto para alimentar os ricos. Seu uivo a ribombar é, ao contrário do primeiro, o do aumento do gasto público para melhorar os serviços, financiar o consumo, fortalecer o empresariado nacional e proteger os mais pobres com dinheiro e remédio barato.
Marina Silva arrasta o de Eduardo Campos, o coronel moderno da The Economist que aliava nepotismo com eficiência administrativa. Sua ressonância ectoplasmática é a da terceira via entre o estado mínimo do primeiro e o estado excessivo do segundo, na contradição esquisita de humanizar a racionalidade de um e ao mesmo tempo aprofundar as conquistas socais do outro.
O problema de Aécio é que o discurso liberal nunca faz sucesso nem em seu Estado, onde a expressão “choque de gestão” virou piada a ponto dele evitar usá-la na propaganda eleitoral.
O de Dilma é que o gasto excessivo está arrebentando as contas públicas, inviabilizando o investimento privado e empacando o país.
E o de Marina… bem, é o de Marina: inexperiência de achar que pode enquadrar o sistema produtivo, do dia para a noite, num conceito algo romântico de desenvolvimento sustentável com inclusão social, de agricultura familiar e usinas elétricas que não afoguem tartarugas e florestas.
Eleitoralmente, Aécio tem que afastar de sua cabeça a pecha fantasmagórica de elite do príncipe fantástico. Dilma, o carma do populismo semi getulista que afasta a classe média e a elite. E Marina, a tentação das alianças coronelistas que sustentavam o seu fantasminha camarada.
Dos três, Marina é a mais desgarrada do seu, porque foi ele a se adaptar ao discurso dela, não o contrário. Dilma, a mais confortável para vender o sonho de que o governo pode tudo. E Aécio o mais atolado na dificuldade de vender sonho num país em que 60% do eleitorado querem os sonhos de Dilma e Marina: um Estado que resolve todos os problemas e um desenvolvimento que preserve as tartarugas.
Sobram-lhes 40% para tentar convencer de que o Estado não pode tudo. O problema é criar emoção falando em racionalidade administrativa e fazer clipes cinematográficos envolventes com responsabilidade fiscal.
Ideal, ideal mesmo, é que os três mandassem seus fantasmas para as catacumbas do tempo, onde já cumpriram sua finalidade.
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