Como tudo se queima, se fadiga e se desgasta mais rápido nesses tempos apressados, os partidos e suas ideias também.
- O PSDB parece um partido velho de teses velhas, apesar de ter deixado o governo há pouco mais de uma década. Sua ideia de estado mínimo para liberar as forças produtivas virou uma ofensa com a ascensão do paternalismo petista.
- Mas o PT também já está ficando anacrônico. Já vai virando também ofensa o discurso social de atacar diferenças sociais com gastos sem medida que privilegiam a paralisia e sacrifica o sistema produtivo.
Nada como um governo atrás do outro e eleições no meio para que assumam e tentem validar suas teses e submetê-las ao sábio escrutínio do tempo.
Eduardo Campos, do PSB, parecia juntar as duas pontas e surfar no que deveria ser uma nova onda e necessidade: um administrador competente, respeitado por empresários modernos como Jorge Gerdau Johampeter, misturado a um socialista deslavado que incorporou bem o discurso algo utópico de Marina Silva: desenvolvimento com respeito ao ambiente e inclusão social.
Nem o estado mínimo do Consenso de Washington que gerou o neoliberalismo do PSDB e nem o intervencionismo anos 50 do PT e meio Ernesto Geisel de Dilma Roussef.
Não era certamente algo que ele projetou ou pretendeu, mas produto das circunstâncias que o forjaram.
Criado na cepa do primeiro coronel nordestino comunista de que se teve notícia, Miguel Arraes, cresceu ouvindo discurso social e presenciando alianças do avô com o que havia de mais atrasado. Com a modernização do nordeste, acabou se aliando ao capital moderno sem deixar de compor com a coronelada ainda dona de voto, como Severino Cavalcanti e Inocêncio Oliveira.
A revista inglesa The Economist o chamou recentemente de coronel moderno, um executivo que cavalgava uma cadeira giratória diante de uma grande mesa em U, cheia de cadeiras, de onde disparava ordens e cobranças severas para fazer o governo de Pernambuco andar, depressa, em padrões administrativos que aprendeu fora do Estado.
Intuiu talvez que era seu tempo e seu momento. Numa sabatina na Confederação Nacional das Indústias, disse que o atual modelo “esclerosou e faliu” e que comandaria uma reforma política para acabar com “essa lógica patrimonialista, fisiologista e atrasada que tem a cabeça no século 19″.
Na boa entrevista que deu ao Jornal Nacional na véspera de sua morte e mostrou boa concatenação de macroeconomia e preocupação social, sinalizou que era preciso “fazer diferente”. Que o PT havia falhado em suas promessas de superar o que seriam os desafios não resolvidos pelo PSDB.
Ali, parecia já estar percebendo a nova onda e seu lugar na história. Que poderia não ser para agora, mas para daqui a pouco.
Com ele, o país poderia caminhar para um tipo de capitalismo social ou um capitalismo envergonhado. Mas é coisa deste país atrasado, que insiste em chegar ao socialismo sem ter experimentado o capitalismo. Menos pior, talvez, com ele.
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