Sobre a entrevista de Eduardo Campos no Jornal Nacional:
1. Pareceu um gato angorá escovado e assustado e só olhou para a câmera quando obrigado, nos seus 90 segundos de mensagem final.
2. Passa humildade sincera, talvez porque acuado, e não ensaiada. Não parece estar fazendo tipo.
3. Como os políticos tarimbados, respondeu pouco, passou rápido pelas respostas constrangedoras, e aproveitou o que pôde de oportunidade para promover seu currículo.
4. Do pouco que conseguiu, mostrou um discurso concatenado que passa por conhecimento em macroeconomia e amadurecimento na questão ambiental. Foi inteligente para se mostrar afiado com o discurso de Marina Silva – respeito à natureza e inclusão social – sem que isso signifique entrave ao desenvolvimento.
5. Quase convenceu que sabe o que está falando apesar da contradição de prometer elevar gastos – escola integral, passe livre, saúde total – e cortar despesas para conter inflação. Mostrou aí que entende de macroeconomia e dá para economizar em juros sem cortar serviços.
6. Não convenceu nada sobre seu histórico de nepotismo e tráfico de influência para alocar um primo no Tribunal de Contas estadual e a mãe no federal. E enrolou bem sobre o que mais lhe deve ser cobrado na campanha: o oportunismo de só ter deixado o governo do qual divergia na última hora. Traição de uma proposta em que acreditava.
7. Sinalizou que vai usar o mote de que o governo em que acreditou traiu seus princípios e no que acreditava. Não fez as tais “mudanças profundas” de que o país precisa e se aliou a uma política velha.
8. Sinalizou um tipo de continuidade boa, que vai conseguir o que Dilma prometeu e não entregou. “Novo caminho” e “fazer diferente” serão seu modo de tentar se desvencilhar da imagem desconfortável de querer ser diferente sendo muito parecido.
9. Como já falei sobre Aécio quando ele namorou a tese de continuidade, o risco é o eleitorado preferir o original. Pior para Campos, que tem cara demais de Dilma. Se o eleitorado rejeitar mesmo o PT nas urnas, ele vai junto.
10. Se tudo o que o JN queria era bater pesado nas vísceras do nepotismo em favor da mãe no TC, conseguiu pautar o resto da imprensa por aí:
- Folha, Estadão e O Globo bateram duro: “Campos diz não haver nada nada de errado etc…”
- Veja, surpreendentemente, mais leve: “Campos tenta explicar contradições”. No texto todo cuidadoso: “Já sobre as indicações para o TCE de Pernambuco, Campos teve um pouco mais de dificuldade…”
- Carta Capital idem, mas, como no caso de Aécio, mais preocupada com a janela: “Jornal Nacional foca entrevista de Campos em nepotismo”
- Época, estranhamente, também ignorou, como havia ignorado a de Aécio, apesar de pertencer às Organizações Globo.
- Como o Estado de Minas, que também o fizera com Aécio, pelo que se sabe: os Diários Associados, donos da Alterosa, filiada ao SBT, são concorrentes diretos.
- Hoje em Dia e O Tempo também de nepotismo, um pouco mais retóricos: “Campos diz que não vê problemas…”, “Campos nega em entrevista…”
PS – O destaque para Eduardo Campos é sempre menor do que o dado a Aécio. Por mais que queira, ela o trata como terceiro.
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