Curioso mas previsível o metabolismo dos escândalos na imprensa. Só se acelera e muda a ordem das coisas no ecossistema da política quando a lama suja chega aos pés do figurão da hora.
Suspeitas pesadas de negócios mal explicados na Diretoria Internacional da Petrobras já passaram por matérias importantes, sem repercussão. A revista época publicou há tempos um petardo contra as estripulias da diretoria em negócios internacionais duvidosos, como na Argentina. Era o ano de 2009 e o departamento era naco do PMDB mineiro.
Pasadena, a sucata de US$ 42 milhões comprada por US$ 1,2 bilhões, já estava naquela matéria com todos as suas dúvidas. Mas precisou passar perto da presidente para virar escândalo nacional.
O Estadão descobriu que ela presidia o Conselho de Administração da empresa, quando da compra, e pronto: sua assinatura passou a valer mais do que o US$ 1,2 bilhão de prejuízo que outras notícias já tinham computado.
É o caso do mensalão.
Notas e colunas pingavam aqui e ali sobre alguns comportamentos ortodoxos da relação entre a Casa Civil, o tesoureiro do PT e os deputados. E há o registro de pelo menos uma denúncia fundamentada um ano e meio antes da denúncia de Roberto Jefferson que botou fogo no circo.
O jornalista Carlos Chagas identificou, em coluna de fevereiro de 2004, na Tribuna da Imprensa, um ano e meio antes, as movimentações do publicitário Marcos Valério em torno de pessoas e um contrato suspeito da Câmara dos Deputados. Denúncia do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), de agosto do mesmo ano, mereceu do então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), a promessa de uma apuração que deu em nada.
Mas o bem informado mundo político de Brasília, incluindo os jornalistas que tudo leem, só foram dar atenção ao caso quando Roberto Jefferson levou a lama até os os pés do então maior dignatário da República – o chefe da Casa Civil, José Dirceu. O metabolismo, a partir daí, todo mundo conhece.
O que, tudo somado, explica a baixa repercussão do caso do propinoduto e de favorecimentos nas licitações do Metrô de São Paulo, que envolvem 12 empresas e funcionários dos governos tucanos de Covas, Serra e Alkimin – 1998 a 2008.
Apesar da boa vontade da imprensa com o assunto, ao contrário do que reclamaram os petistas nas redes sociais, as denúncias ainda não sujaram os pés de figurões da hora. O mais próximo figuração de que se chegou perto, por conta de um seu assessor envolvido, nunca foi da hora. Mário Covas, como se sabe, está morto.
A culpa pode ser compartilhada entre a imprensa e os leitores. Tanto quanto repórteres e editores de jornais, amamos um big-brother quando os holofotes estão em cima de quem importa.
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