Eu tendo sempre a colocar um pé atrás quando vejo artistas da TV à frente de campanhas políticas como esta para derrubar o pastor Marcos Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Não por que estejam certos ou errados, mas por em geral estarem míopes.
O pastor vem sendo combatido por suas ideias, que não por acaso são as mesmas do papa Francisco, como foram dos papas João Paulo II e Bento XVI, para os quais Satanás era uma presença viva a rondar os defensores do aborto, dos contraceptivos e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ou pelo uso que faz delas, arrancando dinheiro de gente de boa fé com argumentos perniciosos.
Só que a Frente Parlamentar Evangélica do qual ele faz parte tem 68 deputados empenhados em ocupar todos os espaços relevantes na Câmara dos Deputados, em defesa de seus interesses, como revela essa matéria do Estadão. Há 18 deles dispostos a usar seu peso dentro da poderosa Comissão de Constituição e Justiça, onde os projetos recebem o primeiro parecer que podem selar seu destino, e 14 na não menos poderosa Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Ali, travam uma luta renhida para defender suas concessões de rádio e TV e barrar qualquer proposta que pretenda estancar a compra de espaços nos meios de comunicação para pregação religiosa.
Esse avanço com pretensões de monopólio e capacidade de arrastar multidões em defesa de suas ideias, por mecanismos de arrecadação nem sempre santos, me parece infinitamente mais grave e preocupante para o futuro do país do que a ocupação da presidência da Comissão de Direitos Humanos por um de seus embaixadores.
A fé, as ideias e o comportamento do pastor deputado podem não interferir tanto na qualidade dos projetos em análise na sua comissão quanto a ação orquestrada de parte de seus pares podem interferir na vida do país. O papel do presidente nesses órgãos colegiados é quase sempre equilibrado pelo jogo de interesses entre seus membros. Mais relevante é prestar atenção na composição dela, que pode pesar a votação contra ou a favor de políticas de direitos humanos, como a presença de 14 pastores na comissão de Comunicação pode definir o futuro da comunicação.
O problema não é apenas que ele seja inadequado para o cargo, mas que sirva de cortina de fumaça para não se discutir o que está atrás dele. O avanço de uma casta complicada que avança sobre os meios de comunicação para vender suas ideias de forma quase sempre distorcida e nem sempre por meios honestos.
Seriam bom que os artistas reservassem parte de seus beijos midiáticos para combater esse avanço, se, claro, não temerem o risco de nunca serem contratados para as novelas da Record.
O que vale para os deputados do PT, que usaram pastores para pedir voto em eleições passadas, e a turma do lobby gay.
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