Sabe a sua locadora? Se não ainda fechou, vai fechar. Seu fornecedor de filme pirata? Foi bom conhecê-lo. Lembra aquele tal de DVD? Esqueça. Blue ray? Pode começar a vender a sua coleção. TV a cabo? Vá pensando em cancelar a assinatura.
Todos os sistemas e modelos de negócios criados para criar conforto para quem não quer se submeter à ditadura dos horários da TV aberta estão com os dias contados. Filmes e qualquer audiovisual relevante vão estar disponíveis nos sites por demanda, on demand , num sistema chamado streaming , que disponibiliza a exibição, sem interrupções e maiores dificuldades, em segundos, a partir do clique, em computadores ou nos modernos aparelhos de TV smart .
O principal sinal da reviravolta foi o lançamento no início de fevereiro de uma série de televisão, House of Cards , de 13 capítulos e 100 milhões de dólares de custo, bancada pelo mais bem sucedido site de streaming até aqui, o Netflix. Outras séries, como a que vai contar a vida de Pablo Escobar, a ser dirigida pelo brasileiro José Padilha, estão em produção para bater de frente com a HBO, a operadora de canais a cabo que virou sinônimo de séries caras e de alta qualidade. Que não, por acaso, já lançou seu serviço on demand, o HBOGo.
O investimento é sintoma do vigor do site, que já contabiliza 33 milhões de assinantes no mundo, mais de 1 milhão na América Latina, pagando 7,99 dólares mensais (R$ 14,90 no Brasil), um quinto ou um décimo, dependendo do caso, das assinaturas de TV a cabo. A estreia do primeiro seriado, sobre um senador americano ambicioso e inescrupuloso – com o perdão da redundância – vivido por Kevin Spacey, motivou mais de 50 mil comentários no Twitter em um dia.
As operadoras a cabo, que se apresentaram na década de 90 como redenção dos torturados no sofá pela falta de opções da TV aberta, também lançaram seus serviços de aluguel de filmes entregues virtualmente, no conforto do mesmo sofá. Só que, como não dispõem do mesmo tipo de tecnologia, já chegam atrasadas – exibem os filmes de forma contínua ao longo de dois a três dias e não suprem a demanda para a qual foram criadas e falharam vergonhosamente no que é a principal demanda desses tempos modernos: conceder o poder ao telespectador de assistir o que, onde e quando. Principalmente quando.
O sistema de streaming derruba numa cajadada só os aparelhos de dvd e blue ray, os canais a cabo, os piratas que vinham substituindo com eficiência as locadoras e, com larga vantagem, as próprias locadoras. Um sistema inteligente cruza as suas opções e lhe oferece opções similares, em condições tecnológicas melhores e mais seguras do que aquele seu amigo da locadora ali da esquina. É só clicar.
Não derruba a curto prazo a TV aberta, mas sim o seu modelo de negócio. Em 20 anos, a maior parte do conteúdo em vídeo estará na web e a concorrência entre os canais não se dará mais na faixa de horário, disse o criador do Netflix, Reed Hastings, por ocasião do primeiro aniversário do site no Brasil, em agosto. Mas na capacidade de entregar o bom produto na hora que o telespectador quiser.
O que não talvez não derrube, mesmo em curto prazo seja outra grande demanda humana, velha como o mundo: a de compartilhar emoções simultaneamente, em torno da transmissão de grandes eventos esportivos – a final do campeonato, a corrida Fórmula 1 ou, no caso do Brasil, o capítulo final da novela.
Bebendo chope num bar de copo sujo, diria eu. De preferência.
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