Difícil fazer reparos na cobertura da imprensa escrita na tragédia de Santa Maria. Como o principal aconteceu pela madrugada e, já de manhã, pipocavam informações nas rádios, os jornais tiveram o domingo inteiro para trabalhar. E um dia inteiro, principalmente um domingo sem outras maiores coberturas, é uma eternidade para uma turma que aprendeu a trabalhar no sufoco e em curta prazo para entregar material quente e variado, na última hora.
Com o prazo e muito profissionalismo, conseguiram entregar na segunda-feira um material quase completo de uma das maiores tragédias que nossa leniência pública já produziu: números bem aproximados, histórias pessoais, explicações bastante convincentes das circunstâncias e indícios muito consistentes dos culpados e imagens. Com poucas exceções, como a da Folha de S. Paulo, que resiste a ir além do fato em suas capas, a maioria procurou avançar nas causas e culpas, mas com o devido fundamento que a reportagem extensa conseguiu oferecer.
Interessante que as redes sociais, assentada na obsessão dos milhares de voluntários de celular em punho, não tenha contribuído com quase nada em imagens e relatos, como tem ocorrido em tragédias anteriores. Possivelmente por causa das cruéis condições de luminosidade do local antes, durante e depois da tragédia, nenhuma imagem relevante saiu de um espaço onde certamente haveria quase um celular com câmera por cabeça.
Mais um ponto para a chamada mídia tradicional. O incêndio na boate de Santa Maria vai ficar como mais um estupendo exemplo de como é ela que ainda detém o monopólio da informação variada, selecionada, organizada, profunda e, dentro de suas condições e até onde interessa, rápida. A informação não roda mais pelos seus chassis – o papel dobrado e transportado em caminhões – e sua repercussão depende dos computadores, mas continua insuperável para dar ordem no turbilhão de sons e imagens que nos atordoam.
Restrição para a poderosa Globo, como sempre. A emissora tem como poucas no mundo uma agilidade espantosa para montar grandes aparatos de cobertura, com mais agilidade e a mesma potência informativa e explicativa dos jornais. Mas cai sempre num texto editorializado, choroso, que poderia perfeitamente ser evitado sem prejuízo da informação. Infelizmente, como quem narra futebol, tenta produzir mais emoção que informação.
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