Rosemary Noronha, a chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo, apanhada na venda de facilidades no governo, deveria te sido exonerada no dia em que mandou decorar o seu local de trabalho com um grande painel do presidente da República chutando uma bola, num tipo de adoração que se estendeu a rostos de seu ídolo impressos nas almofadas (foto revista Veja).
Os símbolos da República permitidos por lei em repartições públicas são o brasão de armas e a bandeira nacional. Se quisesse utilizar o retrato do presidente, teria que ser o oficial, aquele de terno, gravata e faixa presidencial. Que hoje deveria ser o da Dilma e não o dele. Qualquer coisa fora disso, é uso privado de bem público.
Se ela tivesse sido devidamente punida à época, poderia ter aprendido que o escritório não era sua propriedade privada e deixaria um recado para seu sucessor no cargo – que ali não é lugar de tratar de assuntos pessoais. Poderia talvez tê-lo inspirado a não tentar traficar influências para beneficiar-se e a seus amigos.
Da mesma forma, se a primeira-dama Marisa Letícia tivesse sido punida quando violentou os jardins de Burle Marx, plantando uma estrela do PT com sálvias vermelhas no Palácio da Alvorada, de nossa propriedade, teria enviado um recado a seu marido que o governo não estava dentre os bens de sua propriedade privada.
Mas, numa adaptação livre daquele poema famoso que ficou brega de tanto uso na hora errada, poder-se dizer que:
“Na primeira noite, eles se aproximam
e cavam uma estrela
no nosso jardim.
E não fazemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem.
Os filhos brincam no avião presidencial,
a ministra vai rezar na Argentina,
o ministro compra tapioca com cartão corporativo
e todos ganham passaporte diplomático.
E de novo não fazemos nada.
Até que um dia, o mais cínico deles
decora a repartição como se fosse sua,
emprega os amigos como se o governo fosse seu,
vende pareceres e leis da República como se estivesse no balcão de sua loja.
Roubam nossa decência e, conhecendo nosso medo, riem de nossa cara.
E como não fizemos nada,
não podemos fazer mais nada.”
Ou, de outra forma: quem disse aí que o mensalão iria mudar os costumes políticos do país?
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