Política, novela e imprensa precisam de bons personagens e estão sempre enfatizando um deles para alavancar a audiência. Se há um bom protagonista, é preciso arranjar-lhe logo um antagonista de peso. Como nos mais empolgantes roteiros de ficção, alguém quer muito uma coisa e alguém vai atrapalhar.
Aécio Neves vinha sendo esse personagem construído para atrapalhar a vida de Lula e Dilma. Pelo interesse natural da imprensa por bons personagens, pela competência dele de se apresentar como alternativa nos palanques e em boas articulações fora de Minas e dentro das redações de jornais e revistas. Não é só porque gosta do Rio de Janeiro que vive por lá – precisa estar por perto dos protagonistas da mídia que repercute nacionalmente.
Problema para ele é que, mais do que nunca, a mídia é ávida por novos personagens. E as eleições deste domingo estão oferecendo outros com os quais ele passará a ter que dividir espaço daqui para frente, numa posição bastante desconfortável.
O principal deles atende pelo nome de Eduardo Campos. O governador de Pernambuco, principal estrela do PSB, cavalga um partido em crescimento, tem bom trânsito com outras duas forças emergentes (PSD e PDT) e tem o perfil de esquerda que pode se apresentar melhor como alternativa ao PT.
Embora se tenha vendido por aqui a esperta aliança com o pessebista Márcio Lacerda como parte da grande articulação de Aécio para atrair Eduardo Campos, em disputa aberta com Lula pelo domínio do PSB, a verdade parece ser o contrário: o governador de Pernambuco é que está atraindo grandes apoios, articulando uma base consistente para ganhar músculos em 2014 e se viabilizar em 2018.
Para desconforto de Aécio, hoje, o seu PSDB é uma força descendente, na contramão do partido de Eduardo Campos. Tem quase zero de presença no Rio, vai mal das pernas em São Paulo com o desgaste de Serra (aliás um inimigo íntimo a enfrentar em 2014) e não anda às mil maravilhas por aqui. Ganhou a maioria das prefeituras (142), mas foi o PT (114, terceiro colocado depois do PMDB), que levou as grandes – Uberlândia, Governador Valadares, todas as do Vale do Aço –, se fortaleceu na capital e disputa com chances no segundo turno em Contagem, Juiz de Fora e Montes Claros. O partido, mesmo com os eventuais e poucos estragos do mensalão, foi o que mais cresceu em votos e em número de prefeitos de grandes cidades, no país.
Para seu azar, o PT não caiu tanto quanto se apregoava e vai para o segundo turno em São Paulo. O que devolve a polarização para o centro político e econômico do país, onde PT e PSDB construíram sua história. Também põe em cheque seu projeto, até agora bem sucedido, de tornar Minas Gerais protagonista relevante na disputa nacional. Para completar, o PSB já não corre apenas por fora.
PT mais vivo do que se supunha, PSB ocupando espaços, PSDB em queda e Minas irrelevante. Manter-se como personagem atraente com tantos contratempos vai requerer muito do talento e do carisma que, como se sabe, sempre teve.