Pergunte a alguém no interior o que acha de político.
– Ah, é tudo bandido.
Mas refaça a mesma pergunta sobre um político conhecido, bandido de carteirinha.
– Bom, peraí. Ele pode até roubar, mas tem trazido muita coisa boa para a cidade.
É a melhor tradução de como as grandes questões nacionais, ou escândalos como o do mensalão, não afetam as eleições municipais. Os especialistas em pesquisa e analistas políticos sempre disseram isso, mas andaram mudando de opinião ao relacionar o endurecimento das decisões no STF com as dificuldades atuais do PT nas eleições das grandes capitais, principalmente São Paulo e Belo Horizonte.
Minha tese, sem nenhuma comprovação científica, é de que tudo continua no mesmo.
O mensalão não interferiu de forma relevante no que o eleitor de São Paulo pensa de Fernando Haddad e o daqui pensa de Patrus Ananias. Mas afetou, sim, o modo como o PT atua em eleições. O mensalão não desmoralizou o que já estava desmoralizado, mas desmobilizou. E este pode ser o maior estrago que as decisões do Supremo podem estar fazendo com o partido.
Desde que perdeu a traumática e a seu ver injusta eleição para Collor em 1989 e começou a disputar eleições majoritárias em condições reais de vencer, o partido montou em cada pleito estruturas de investigação e denúncia como parte do seu projeto de marketing. Denegrir o adversário, com denúncias de corrupção, passou a ser tão imprescindível no seu cardápio de ações eleitorais quanto apresentar uma boa plataforma de governo.
Com a crise moral, entretanto, e alguns dossiês que saíram pela culatra, o partido perdeu a condição de apontar o dedo para a corrupção alheia. E as campanhas acabaram se tornando anódinas, sem o vigor das denúncias e a desmoralização do adversário que provocavam viradas até espetaculares nas pesquisas.
Em São Paulo, por exemplo, Paulo Haddad tem usado como arma contra o favorito de longe nas pesquisas, Celso Russomano, acusações algo vagas de conservadorismo e inexperiência. Em Belo Horizonte, a coisa é mais dramática. Aqui, além de afetado moralmente pelo mensalão, o partido participou da administração que agora precisa combater e pode ter menos autoridade moral ainda para denunciar desvios que possam ter havido e dos quais teria também que prestar contas.
A essa altura do campeonato, só acusações mais sérias de desvios ou favorecimentos poderiam fazer algum rombo na campanha do favorito Márcio Lacerda. Indícios, mesmo tênues, também provocariam alguns estragos relevantes. Mas, sem poder pegar pesado, por razões várias que podem ir do mensalão ao conhecimento de causa do que se passou dentro da administração de que fez parte, a campanha patina em acusações suaves de falta de participação, inclusão e democracia.
A administração Márcio Lacerda pode ser totalmente proba, sem nenhum desvio ou favorecimento? Pode. Mas o PT nunca considerou isso antes para jogar suspeitas sobre seus adversários nas eleições passadas. E, quase sempre, com bons resultados eleitorais.
O mal é que, com isso, muita coisa pode estar sendo varrida para debaixo do tapete, aqui e nos mais de 5 mil municípios do país. Ao desmobilizar a sanha investigativa e denunciatória do PT, o mensalão pode estar nos privando de denúncias que sempre serviram como relevante indicador de escolha de candidatos municipais – o grau de corrupção. Ou: virou tudo um jogo de compadres.
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