Engraçado em filmes de quadrinhos como o Homem-Aranha é que os roteiristas precisam destruir metade do mundo para que o herói resolva seu problema com a namorada.
Como no caso do mais recente, em que o Lagarto destrói meia Manhattan para colocar o rapazinho tímido em confronto com o sogro que não gosta do seu relacionamento com a filha.
Fãs desse tipo de filme acham que o primeiro a gente nunca esquece e tendem a rejeitar os atores que se metem a substituir os originais.
Mas o Peter Parker de Tobey Maguire – ou que a direção fez dele – do primeiro filme da trilogia que começou em 2002 (foto) é muito superior.
Tinha aquela cara de retardo e inocência do patinho feito da escola que precisa arranjar a namorada e para quem salvar o mundo é um acidente de percurso que mal entende.
A construção do personagem, crucial em filmes inaugurais desse tipo, foi bem mais competente no roteiro de David Koepp e na direção de Sam Raimi, no primeiro filme.
O jovem vai incorporando gradativamente o estranhamento e as transformações em seu metabolismo, após ser picado pela aranha geneticamente modificada, como um aspecto de uma personalidade meio zonza, autodepreciativa e involuntariamente bem humorada.
Sua decisão por envergar o uniforme azul e vermelho, após uma competição numa luta de boxe, é toda construída a fazer sentido, ainda que no sentido possível a que as fantasias como essas se prestam.
Nem de longe o caso de Andrew Garfield (o brasileiro Eduardo Saverin do filme A Rede) na direção de Mark Webb e roteiro a três mãos. Mais feio, mais grungie e menos inocente, descobre-se com superpoderes e uniforme novo num tempo rápido demais que pareça lógico.
Também não se transformou ainda no fotógrafo que precisa do emprego no jornal em que o dono quer pegar o Homem-Aranha e nem tem uma tia coroca e velhinha como nas revistinhas.
Os roteiristas não se preocuparam, enfim, no que parece também essencial nessas adaptações – serem fiéis à primeira história.
Mantiveram a ideia de destruir meio mundo para que o rapazinho encontre, perca e reencontre a namorada, mas a traíram em quase tudo. E sem 10% do ritmo que Sam Raimi impôs aos primeiros.
Como tudo, entretanto, tem salvação, sobra a mocinha Emma Stone. Cobre com vigor, beleza, carisma e honestidade a falta de Kirsten Dunst.
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