O primeiro Star Wars, de 1977, é um filminho quase tosco para os padrões dramáticos e técnicos de hoje: alienígenas meio caricaturais, diálogos infantis, personagens rasos e soluções fáceis. Difícil de engolir que a meia dúzia de naves capengas dos rebeldes e um jovem piloto sem experiência conhecida possam destruir com tão certeiros e poucos tiros a estação planetária do Império.
As melhores explicações para esse fenômeno de devoção quase religiosa que impactou uma geração passam pelo roteiro simples dessa peça inaugural que opõe claramente bons e maus e atende de forma linear os canones universais de construção do mito: a jornada do herói que recebe um chamado para salvar o mundo, a rejeita a princípio, é empurrado para ela por alguma grande perda e vai por fim cumprir sua jornada de aprendizado, antes de voltar com segurança para casa.
Gosto de acreditar, porém, que as melhores explicações, duas, estão fora dele.
O clima algo idílico do planeta Tatooine em que humanos, andróides e alienígenas bonzinhos convivem em paz sob um sol laranja pode ter respondido a uma necessidade de acreditar que outro mundo e em outras galáxias, “uma nova esperança”, como diz o subtítulo, eram possíveis. Vivia-se então sob a ameaça de destruição global, pesada como o chumbo dos melhores anos da disputa armamentista Estados Unidos e União Soviética.
Esse mundo primitivo que evoca uma época dos dinossauros com seus paquidermes estranhos convivendo em paz com os homens e sucatas de naves se impondo contra a ciência avançada dos sabres de luz parecem evocar o triunfo da humanidade e da solidariedade sobre as maldades da Ciência.
(Num filme cheio de evocações nostálgicas, é interessante um tipo de bar em que alienígenas de todos os tipos se misturam a androides e contrabandistas como o personagem de Harrison Ford. Um tanto como o Rick’s Bar de Casablanca, onde refugiados do mundo inteiro se rendiam a uma solidariedade involuntária e inevitável contra o inimigo comum.)
Uma segunda hipótese é que o segundo filme tenha feito a fama do primeiro.
O Império Contra Ataca, de 1981, é alguns graus superior em efeitos especiais, sedimentação dos personagens e consistência da trama. O roteiro bem mais sofisticado que teve a mão de Lawrence Kasdan construiu, entre outras coisas, as falas inesquecíveis do mestre Yoda que respondem por boa parte da religião algo zen budista que a saga espalhou.
O interesse por esse segundo filme, o melhor de todos os da saga, certamente chamou atenção para o primeiro e os próximos.
Donde que histórias inesquecíveis respondem às inquietações de seu tempo e que, por fim, o que vale é o conjunto. Um bom seguimento pode muito bem fazer o sucesso da obra original.
Deixe um comentário