Escrevi anteontem sobre o talento de Renan Calheiros na arte recorrente no jogo político de pôr e tirar bodes da sala. Uma das principais ferramentas que se sustentou, construiu maiorias fiéis e serviu a diferentes governos em quase 30 anos.
Na presidência do Senado, ameaçou colocar, pautar, retirar e paralisar projetos e CPIs ruins para os governos em que teve influência.
Nos últimos tempos, ameaçava a sala do Judiciário com a comissão especial dos altos salários, a urgência no texto aprovado na Câmara que desfigurou as dez medidas contra corrupção e por fim a votação do projeto de abuso de autoridade que enquadra juízes e promotores.
O último foi a desobediência à liminar que o afastava da presidência do Senado. Desencadeou uma cadeia de acertos entre os altos escalões da República que redundou no recuo em forma de missa fúnebre, na sessão de ontem do Supremo.
Um tipo de extrema unção em que os doutos ministros do colendo tribunal utilizaram de todo o seu malabarismo semântico e sua capacidade epistemológica para, como diria Odorico Paraguassu, dar um torcicolo no pescoço da verdade. Engoliram uma desobediência que é a maior das afrontas a um juiz.
Era hora do malabarista mor retirar o bode. Numa nota espelho do equilibrismo que o coloca alguns graus acima de outros grandes criadores de caprinos de Brasília, como Eduardo Cunha, Lula e José Sarney, mandou:
É com humildade que o Senado Federal recebe e aplaude a patriótica decisão do Supremo Tribunal Federal. A confiança na Justiça Brasileira e na separação dos poderes continua inabalada. O que passou não volta mais. Ultrapassamos, todos nós, Legislativo, Executivo e Judiciário, outra etapa da democracia com equilíbrio, responsabilidade e determinação para conquista de melhores dias para sociedade brasileira.
Marketing do poder
Não foi difícil para o Supremo corrigir o incidente provocado pelo ministro Marco Aurélio de Mello, discutível na forma, na tática e na oportunidade.
Sua liminar para afastamento do presidente de um dos poderes da República atropelava um processo em andamento com o mesmo fim, sem respaldo interno (monocrática, como dizem) e a menos de duas semanas do recesso parlamentar, que já encerraria formalmente o mandato do presidente do Senado. Sua substituição ocorre em eleição na reabertura dos trabalhos legislativos, a 1 de fevereiro.
Esse pequeno período, um hiato sem importância no calendário milenar e despreocupado do Supremo, é o mais acelerado e crucial do Legislativo.
Esse poder que opera aos solavancos e no limite dos prazos, depois de negociações excruciantes, tem que limpar em dezembro a pauta do que se enrolou o ano inteiro. Neste, em especial, além do Orçamento, há projetos inadiáveis para o funcionamento do governo e do país, como a PEC do Teto.
O afastamento produziria um pequeno caos, não porque se colocaria um petista refratário ao governo no lugar (o vice Jorge Viana), que seria rapidamente enquadrado pelo Colégio de Líderes. Mas a aprovação em lote na reta final demanda a mão forte de um aglutinador que não se produziria à última hora.
Diálogo versus enfrentamento
É possível que tenham pesado, sim, as razões nobres que fazem a cereja no bolo no marketing dos poderes. Aquele discurso de risco das instituições, harmonia dos poderes e salvação do país que, ao longo da história, camuflou muitos interesses inconfessáveis.
Não se descarte porém que os magistrados possam ter recuado diante do risco real de que os senadores comandados por esse arrivista pudesse enquadrá-los no projeto que prevê crimes de responsabilidade ou, na pior das hipóteses, divulgasse seus salários.
Não há discurso de defesa do país e das instituições que resistam a um argumento desses.
De qualquer forma, retomou-se o diálogo que fora abolido na vida pública brasileira desde que os governos do PT instituíram o enfrentamento como política de Estado. A ele se deve certamente o estilo mordomo de Temer e o jeito mineiro de Carmen Lúcia, que dá um bife evitar uma briga, um boi para não entrar nela e uma boiada para sair o mais rápido possível.
É uma volta à normalidade, talvez o maior sinal de que a era petista chegou afinal a seu fim. Haverá mais panos quentes e mais coisa escondida debaixo do tapete, como sempre. Mas um pouco mais de paz.
Cristiano Marques diz
Era petista chegou ao fim?
DataFolha de domingo, ontem, 11/12, diz que não.
Jaime Assis Santos diz
Saudades dos militares no poder, congresso fechado e todos os ladrões presos, principalmente os de toga para não libertarem os seus pares. Não acredito mais neste pais.
Joao Marcelo Valeriano Furtado diz
VAMOS A BRASÍLIA
Teatro de horrores, conchavo, acordos espúrios, talvez essas sejam as palavras- chave para resumir minha indignação.
Nos tempos de faculdade um colega de turma cujo pai era vice-prefeito de uma cidadezinha do interior de Minas me dizia: “Joao, a política não é tudo mas está em tudo”.
Montesquieu, pensador francês que consagrou o sistema de freios e contrapesos entre os poderes deve estar se rebatendo no túmulo. Como justificar tal imundície invocando a harmonia dos poderes?
Acabei de ver que carmen lúcia estava negociando com pimentel a nomeação de um procurador- geral, que a advogada geral da União tbém foi indicação de carmen Lúcia. Como pode? Esse balcão de negócios tem que acabar. Favor nunca se paga.
Já falei com minha mulher aqui em casa, quero ir a Brasília participar de uma manifestação, de preferência violenta, com sangue, enfrentamento, quebra-quebra, invasão,
VAMOS A BRASÍLIA, VAMOS A BRASÍLIA