Para enfrentar críticas e pressões no Congresso, nas ruas, no noticiário e nas redes sociais, o presidente interino Michel Temer já coleciona em menos de um mês de trabalho uma lista considerável de recuos para adornar sua biografia.
Além dos tropeços iniciais de recuar no tamanho do corte de Ministérios e ter que desautorizar auxiliares afoitos -como o ministro da Justiça que questionou a forma de escolha do Procurador Geral, e o da Saúde, que propôs reduzir o tamanho do SUS -, está deixando para a história, entre outros:
- A recriação do Ministério da Cultura, com realoção ou separação de pastas que o bom senso mandava juntar, como Desenvolvimento Agrário e Agricultura.
- Entregou a cabeça de ministros ou correu atrás de mulheres para dar variedade ao Ministério.
- Retomou despesas de investimento, como as 11.200 casas do Minha Casa Minha Vida.
- Deu apoio aos reajustes do Judiciário e do restante do funcionalismo.
- Desistiu de mexer nos limites constitucionais de Saúde e Educação, que está na raiz na maior parte do engessamento da administração pública.
Frágil, vulnerável, dependente de sustentação, anda naquela situação de quem precisa agradar todo mundo para ser aceito no baile.
Líderes hábeis que não chegaram ao governo por um tropeço da história sabem colocar bodes na sala, anunciar dificuldades logo no início para vender facilidades a médio prazo, fazer o mal de uma vez e o bem aos poucos, como ensina a cartilha. Mas não parece ser o caso de Temer.
Lembra assustadoramente Itamar Franco, que demitia ministros de orelhada, para se fazer conhecido e respeitado depois da derrubada do primeiro — e bem aprovado — presidente eleito pelo voto direto depois da ditadura, Fernando Collor de Mello.
Bombardeado logo no início pelos jornais paulistas cheios de preconceito com o que chamavam de seu provincianismo, achava que teria força se se sustentasse no noticiário que o combatia.
Como na velha máxima de que quem se abaixa demais mostra a bunda, Itamar passou à história contada pelos jornais como um presidente fraco, meio biruta de aeroporto, que decidia ao sabor dos ventos e teve a sorte de encontrar um ministro da Fazenda mais competente do que ele, Fernando Henrique Cardoso.
Quinto depois de quatro exonerados de orelhada, fez o Plano Real e levou a fama de ter salvo o governo, de onde catapultou sua candidatura a presidente.
Teoria política
O problema da concessão é que ela não demonstra apenas contradição que desorganiza o governo, falta de orientação que fragiliza os projetos e fraqueza que desmobiliza os aliados.
Ela desagrada os amigos e fortalece os inimigos, que continuarão sedentos e cada vez mais exigentes a cada conquista.
A teoria política gosta da história do primeiro ministro inglês Neville Chamberlain e sua “política de apaziguamento”, que fez concessões demais a Hitler no Acordo de Munique (1938) e deu no que deu. Atribui-se toda a política do porrete dos Estados Unidos depois disso, nas invasões da Coreia, do Vietnã, do Panamá, do Iraque e do Afeganistão, à dura lição aprendida ali de não ceder ao inimigo.
Mais perto de nós, Dilma Rousseff experimentou o calvário de abandonar os aliados e eleitores que apoiaram seu projeto socialista de governo, depois das eleições de 2014, quando deu um cavalo de pau sem reflexo em direção aos eleitores e defensores do concorrente Aécio Neves, ao nomear o liberal Joaquim Levy para a Fazenda.
Ali, perdeu a margem apertada de aliados que tinha e não conquistou qualquer um dos cristãos novos que pretendia agradar.
Recuos fazem sentido para conquistar aliados, construir consensos e forjar maiorias para viabilizar os projetos, mas desde que não desfigurem a meta e o sentido do governo.
Há uma diferença entre concessão para construir acordos entre adversários respeitáveis que aperfeiçoem as propostas e recuos para ceder a inimigos que continuarão insaciáveis a nova conquista, porque não estão interessados em construir coisa alguma, mas operar para desestabilizar o governo.
É o caso de concessões a certos setores que foram às ruas brigar pela volta do Minc, a turma dos movimentos sem teto e sem terra ou a bancada de oposicionistas barulhentos do Congresso, que mudam a natureza do pedido a cada vez que são atendidos. O recuo no caso do Minc e do corte de casas do Minha Casa Minha Vida, entre outros, depois de protestos progressivos, produziu mais bravata do que boa vontade.
Para isso, é preciso saber distinguir entre amigos e inimigos, entre aliados e adversários que podem se tornar aliados, o que é negociação e o que é luta política.
Luta política
Nisso, Temer parece também repetir Itamar no que ele tinha de mais ingênuo: acreditar que havia só boa intenção do lado dos protestos, não também luta política, e que é possível atender as demandas da imprensa.
Nunca é. É da natureza dela, ainda mais na velocidade da internet, também mudar de acordo com o vento e a revirada dos fatos. Embora tenha boa vontade e seja aliada em bons tempos, é a primeira a retirar a apoio, em caso de corrupção ou incompetência.
Para seu azar, os tempos são piores.
Itamar não presidia um país dividido. Fora a militância penitente e isolada de um PT desmobilizado, havia uma quase unanimidade de torcida a favor.
Também não havia redes sociais, essa algaravia de tiro livre sem compromisso com nada, altamente tóxica, de onde é impossível tirar um consenso confiável. Ouvi-las é como se guiar pelo vento, demitir de tarde o ministro que nomeou pela manhã.
E tinha uma aura de honestidade que contaminou, um tanto injustamente, seu governo.
Temer está sozinho e com um bom projeto, rodeado de desconfiança por todos os lados. Vai precisar redobrar seus talentos, já que não tem tempo e e vem parecendo não ter tanta habilidade para colocar e tirar bodes da sala.
José Fernandes diz
O Governo do Temer é frágil, mas não por suas concessões! Parece mal assessorado… o MinC. foi um tiro no pé!. Para um povo que está acostumado com a expressão “pra Inglês ver” e/ou “pasta vazia”, poderia ter deixado este de lado, não aporte recursos nele, menos ainda o instrumentalize, nós mineiros vivemos isto desde sempre! O Temer poderia ter evitado chamar pra cima de seu governo uma classe que tem bons representantes nas redes sociais e que eram favoráveis a saída de sua antecessora. Fizeram muito barulho.
Outro erro foi o Minha Casa Minha Vida. Foi muito barulho da oposição, mas…o povo precisa de trabalhar, e a construção civil emprega. Não é gasto, é investimento pra sair da crise…gerar empego e renda.
Sobre os dois ministros que caíram, aí…Se o governo anterior caiu por sua corrupção, apurada e investigada, o atual não poderia se manter com indivíduos flagrados em articulação contra as investigações contra si. É contra senso, “pau que dá em Chico, dá em Francisco”. Tinham que cair, se, ingenuamente, falamos de justiça!
Ainda sobre as redes sociais, por pior que elas sejam, ainda bem que existem….Elas dão vozes aos leões, senão teríamos o que sempre tivemos…histórias de caçadores. Democratiza.
A fragilidade do governo atual é a mesma da antecessora: Não descobriu que os amigos de seu governo são o povo brasileiro, o governo é para todos, para a maioria, e não os seus grupos políticos, séquitos ou corjas.
carlos Alberto Fagundes Gouvêa diz
Temer preside(preside????) um partido que tem de um tudo,mas falta o essencial- união! Como tal colocou-se como alternativa menos barulhenta de candidato a vice-presidente. Deu no que deu… Dilma afastada por nunca ter tido governabilidade e agora Temer soçobrando, tentando fazer aquilo que todos sabem,ad nausean,que ele nunca teve o dom de fazer: Politica! Pobre Brasil!!!