O que move a obstrução e a obstrução de Lindbergh, Gleisi e Vanessa?

O que deve ficar para a história do julgamento da presidente Dilma Rousseff no Senado são os quase quatro meses de obstrução da banda de música (já apelidada “do jardim da infância” e “da chupeta”) formada especialmente pelos senadores Lindbergh Farias, Gleisi Hoffman e Vanessa Grazziotin.

Juntando todos os seus argumentos e a meia dúzia de expressões que repetiram à exaustão nesse tempo para insistir que “o impeachment é golpe” e que “o direito de defesa foi cerceado”, não dá um parágrafo longo.

Mas ao longo desse tempo, eles infernizaram a vida dos acusadores e da população, contestando até o limite da paciência questões vencidas, brechas inexistentes ou normas indiscutíveis, ignorando o quorum contrário acachapante.

Chicana parlamentar

Se estivessem no Judiciário, estariam cometendo crime.

No Poder Legislativo, porém, a obstrução é método consagrado em lei. Os parlamentares podem emperrar um processo de votação se revezando em seguidas, constantes e infindáveis questões de ordem até, no limite, vencerem ou perderem pelo cansaço.

É o correspondente à chicana dos advogados. Só que ao vivo e a quente, com direito a réplicas, tréplicas e recursos informais ad infinitum.

Não à toa, a maioria das grandes decisões do Congresso são tomadas de madrugada, quando um dos lados, o dos obstrutores ou o dos obstruídos, joga a toalha. Às vezes com alguma concessão, às vezes não.

É uma patacoada exaustiva que quase nada acrescenta ao mérito das proposições, esgota a paciência de quem se candidate a ouvir e só contribui para o desgaste desse poder de decisão volátil, que entrega como resultado quase sempre um consenso precário em torno de leis quase sempre insatisfatórias.

Se é excruciante, algo inútil e quase sempre ridículo, por que os deputados e senadores a utilizam?

Satisfação midiática

A resposta mais edificante é a de que se trata do último e talvez único recurso das minorias para se contrapor ao poder discricionário das maiorias.

A mais óbvia é que precisam dar satisfação a seus eleitores. Miram o nicho ou o curral que os elegeu e pouco se importam se estão infernizando a vida de quem não tem nada a ver com suas bases eleitorais.

A mais simples é que se trata da apelação pura para efeito midiático nesses tempos doentios da superexposição. Os parlamentares que sempre adoraram posar de papagaio de pirata atrás de autoridades na notícia do dia, em busca de figuração no Jornal Nacional, ficaram ainda mais desinibidos, chatos e repetitivos com o advento das TVs legislativas, como TVs Câmara e Senado.

No caso dos três, além de inebriados pelos emails e curtidas de seus fãs, já se comprovou que em boa parte do tempo encenavam para uma produtora de vídeo encarregada de fazer um documentário sobre o impeachment, sob o viés dos defensores da presidente.

Mas pode ser ainda mais simples do que isso: apenas a falta de autocrítica para não saber a hora de parar.