Gastei muito tutano para tentar entender o que leva a banda de música do PT no Senado — formada em especial por Lindbergh Farias, Gleisi Hoffman e Vanessa Grazziotin — a obstruir a reta final do impeachment, sabendo de sua inutilidade e sem pudor de atormentar a vida de quem está dentro e fora do Senado. Rindo, em boa parte das vezes.
Cheguei a escrever que pode ser apenas falta de autocrítica para saber a hora de parar, depois de avaliar que não pode ser apenas pela necessidade de aparecer para seus feudos eleitorais. Mas hoje acho o contrário: eles sabem exatamente que não podem parar.
O senador Aloysio Nunes Ferreira disse numa entrevista à Época que a narrativa do golpe é seu “viático”, o conjunto de suprimentos do peregrino na travessia do deserto. É o que resta ao que sobrou do PT para atravessar o longo deserto eleitoral que se descortina à sua frente, depois de sua falência moral com as revelações da Lava Jato.
É a busca de um motivo, uma bandeira de marketing, que mantenha a moral dos seguidores na longa travessia que se promete árdua e com pouco oxigênio de voto.
Os últimos movimentos da presidente Dilma Rousseff sinalizam isso. Ao atender prontamente os convites dos últimos protestos de seus séquitos para pregar no deserto e mudar de ideia sobre ir ao Senado encarar os senadores, na próxima segunda-feira, ela resolveu contribuir no esforço dos últimos abnegados em arredondar a narrativa.
Pesa, segundo o noticiário de bastidores, posar para o documentário sobre o “golpe” da cineasta Maria Augusta Ramos, que está por trás de boa parte das encenações da banda de música durante os debates na Comissão Especial do Impeachment. Lula, um tanto empolgado com a estratégia, resolveu aparecer e promete dar as caras.
Estão sem medo de encarar os senadores, olhando em perspectiva, ao longo das dunas que se abrem no horizonte.
De certa forma, tentam reencontrar o nicho que haviam perdido quando o PT começou e foi se desintegrando — ou perdendo identidade — à medida que o partido se desfigurou para abarcar o sentimento da maioria da população. A famosa Carta ao Povo Brasileiro, que pregou tudo o contrário do que o partido acreditava para viabilizar a maioria de Lula na sua primeira eleição, em 2002, foi o ponto alto de sua desfiguração e da perda de seu nicho.
É possível que o recupere e o partido volte a ser o de uma minoria que acredite em seus métodos de enfrentamento e suas crenças, que, em linhas gerais, postulam forte intervencionismo estatal para resolver todas as coisas.
Mas deve ser sempre minoria, um partido de nicho como virou o PFL (depois DEM) à direita, até o dia que outro Lula apareça e o desfigure para convencer o resto da sociedade necessário à construção de maiorias.
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