Já vinha se consolidando que Joaquim Barbosa no Mensalão e Sérgio Moro na Lava Jato fossem pontos fora da curva na tradição de impunidade dos poderosos na Justiça brasileira.
A sequencia de ações fora do Paraná, sobretudo as que envolvem o ex-presidente Lula, os presidentes da Câmara e do Senado, o governador de Minas, entre outros, pode indicar que outros candidatos a Moro e Barbosa estejam brotando, que outros juízes e procuradores estejam mordendo, para o bem, um certo tipo de mosca azul.
Minha tese, não comprovada cientificamente, é de que podem estar reagindo à decisão do STF de fatiar as ações da Lava Jato, transferindo a apuração de crimes para os estados onde eles teriam sido cometidos, no princípio chamado de “territorialidade”. A tese afrontava a ideia de que não se tratava de ocorrências regionais, mas de uma sequencia de crimes de lavagem de dinheiro que começaram a ser descobertos a partir da prisão de doleiros em Brasília.
Intencionalmente ou não, transpareceu que a intenção real era retirar determinados processos das mãos duras do juiz Sérgio Moro e de seus procuradores obcecados. Transferir para as de juízes, digamos, mais flexíveis, e seus procuradores de histórico, digamos também, de não tantas obsessões.
Entre eles, principalmente os que envolvem o ex-presidente Lula. Para Brasília, foi o de suspeita de tráfico de influência no BNDES para favorecer a Odebrecht em contratos internacionais, em países por onde andou fazendo palestras. Para São Paulo, o que apura o patrocínio da conclusão e reforma de seu apartamento adquirido da Bancoop de João Vaccari por uma empreiteira beneficiada pelo Petrolão, a OAS de seu amigo Léo Pinheiro, preso no… Paraná.
Mais ou menos nos finais dos anos 80, deputados mineiros foram pegos em denúncias de desvios de recursos para campanhas eleitorais, através de emendas ao Orçamento para entidades de assistência social.
Pressionados pela imprensa, diziam que as denúncias haviam sido encaminhadas para uma “apuração rigorosa” ao Ministério Público, um órgão então inútil, sem nenhum histórico de apuração séria de qualquer coisa.
O que era uma estratégia esperta de simular para a opinião pública interesse na investigação, contando que ela acabasse arquivada ou camuflada, acabou virando um tiro no pé. Os procuradores, incomodados de estarem sendo usados e suspeitos de leniência, resolveram provar o contrário. Municiaram a imprensa de fatos novos que só não desandaram em cassações porque eram outros tempos.
Depois disso, o Ministério Público, que ganharia mais e novas funções autônomas na Constituição de 1988, nunca mais foi o mesmo.
Pode estar acontecendo o mesmo agora com os procuradores e juízes que não são do Paraná.
Podem também estar se sentindo usados, suspeitos de cumplicidade, e botando pra quebrar. Seja atuando nos próprios processos, seja buscando e oferecendo colaboração de e para colegas da Lava Jato, ampliando algumas investigações. Como a de suspeitas de que todo o prédio por onde passou Lula e família tenha sido usado para lavagem de dinheiro.
Um tipo de Lava Jato 2. Ou 3, ou 4…
Sintomática a pressa de São Paulo, onde dormitavam sem grandes obsessões há alguns anos processos como o de desvios da Bancoop, que comprometiam a entrega de imóveis a mais de 2 mil cooperados, incluindo o de Lula, e o escândalo de corrupção em licitações do Metrô nos governos tucanos.
Pode ser que estejam vivendo o que os procuradores de Minas viveram há quase 30 anos. E que, como eles, nunca mais sejam os mesmos.
Democracia, o pior dos regimes na falta de outro melhor, como se sabe, escreve certo por linhas tortas.
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