Que tal você pensar como um Freak e saber que:
1. Testes provam que o uso de cadeiras de bebê nos carros não garantem maior segurança?
2. Planos de saúde universais e gratuitos como o inglês são ineficazes, porque as pessoas tendem a utilizar sem parcimônia o que é de graça e tirar a vez de quem está realmente doente?
3. Foi a liberação do aborto nos anos 1970, e não a repressão, a principal causa de redução da criminalidade nos Estados Unidos?
4. Suicídios são mais comuns em pessoas com melhores condições de vida?
5. Casamentos não trazem necessariamente a felicidade e vinhos mais caros não são necessariamente os melhores?
Agora pense como um jogador diante do gol e do estádio cheio, com a responsabilidade de bater o pênalti que vai decidir o campeonato. As estatísticas indicam que os goleiros saltam em 57% das vezes para a direita e 41% das vezes para a esquerda. Só 2% ficam no meio. Você terá 7% a mais de probabilidade de acertar se chutar no meio, mas um erro aí, embora estatisticamente mais difícil, é mais vexatório que no canto, onde ele pode ser computado à sorte do goleiro. Você chuta em dos cantos ou no meio?
Se você é capaz de bater no meio, sem medo de ir contra a maioria, e abrir mão de suas convicções arraigadas para aprender mais sobre os cinco pontos acima, você está em condições de pensar como um Freak, como no livro de Steven Levitt e Stephen Dubner.
O economista e o jornalista americanos criaram esse curto e saboroso manual de como pensar fora da caixa, para ensinar as pessoas a desenvolverem o modelo de conhecimento que fez deles os best-sellers de Freakonomics e SuperFreakonomics. Eles criaram nos dois livros uma economia do detalhe, uma espécie de pensar pequeno para iluminar coisas grandes e desmontar falsos consensos construídos pela sabedoria apressada e irrefletida de noticiário.
Que passa por ter coragem de pensar fora da manada, de superar o dogmatismo de preconceitos arraigados e perder o medo do fracasso, seja o de não parecer tão inteligente quanto se pensava e não desistir de projetos, mesmo de vida, quando estão dando errado.
As barreiras para pensar como Freak
São três as barreiras principais para se pensar como um Freak:
1. A do espírito de manada, que tem a ver com a pressa. As pessoas têm mais o que fazer do que ficar pensando no aquecimento global, por que terroristas não fazem seguros em bancos, se combater a economia do tráfico de drogas é mais eficiente do que reprimir.
2. A resistência em abrir mão de convicções, mesmo que equivocadas, para proteger a reputação.
Um grupo de pesquisadores do Cultural Cognition Project (CCP), interessados em descobrir por que a opinião pública americana não leva muito a sério as ameaças do aquecimento global, descobriu que a maior resistência estava justamente nas pessoas de maior conhecimento em ciência e matemática. Tendiam a reagir em posições extremadas, a favor ou contra, sem considerar as ponderações dos cientistas.
Esse dogmatismo de terroristas, que por acaso se tratam de pessoas inteligentes, é próprio de pessoas que têm mais experiência com a sensação de ter razão, segundo os autores:
– Quando alguém está muito aferrado à própria opinião, será inevitavelmente difícil mudar sua forma de pensar. Um número cada vez maior de pesquisas vem demonstrando que até as pessoas mais inteligentes tendem a buscar comprovação naquilo que já pensam, em vez de novas informações capazes de lhe configurar uma visão mais robusta da realidade.
Quando não caem, lembram, no ultracrepidanismo, o hábito de dar opiniões e conselhos em questões alheias ao conhecimento ou competência que povoa as redes sociais. Não é porque você é muito bom em alguma coisa que será bom em tudo.
3. O medo de desistir projetos que não estão dando certo, mesmo os de uma vida. Seja porque estão travadas em ditados como o americano “quem desiste nunca vence, e quem vence nunca desiste” (a variável dos ingleses é um discurso famoso de Winston Churchill: “nunca desista, nunca, nunca, nunca’). Seja porque fazem cálculo da perda de tempo, suor e dinheiro que investiram ou ainda porque focam nos custos concretos ao invés de pensar nos de oportunidade.
Escrevem os autores:
– É a falácia do concorde: os governos britânico e francês desconfiavam que o avião era economicamente inviável, mas já tinham gasto bilhões para voltar atrás. (…) Geralmente é fácil calcular custos concretos, mas o mesmo não se dá com os custos de oportunidade. Se você quiser voltar a estudar par conseguir um MBA, sabe que o projeto lhe custará dois anos e 80 mil dólares, mas o que poderia ser feito com esse tempo e esse dinheiro se não voltasse aos bancos escolares?
Ocorre também que desistir pode significar fracasso e ninguém quer se sentir fracassado numa civilização que, segundo os autores numa bela frase, é “uma cronista agressiva, quase maníaca, do sucesso.” Mas, perguntam, “o fracasso é necessariamente tão ruim assim?”
Eles acham que não e listam uma série de projetos em que se meteram e desistiram, inclusive os de suas próprias vidas. Levitt gastou boa parte dela sonhando em ser músico e Dubner achando que seu negócio era política macroeconômica de governo. Hoje, de cada dez pesquisas que empreendem, abandonam cerca de nove em um mês.
A lição é fracassar depressa e barato, ensinam, lembrando o exemplo de uma empresa de compra e licenciamento de patentes de Seattle, a Intelectual Ventures, que produz brainstormings de onde podem sair até 50 ideias, testadas e abandonadas no menor tempo possível.
– É da natureza da invenção que a maioria das ideias não funcione – diz o seu diretor, Geoff Deane. – Saber a hora de abrir mão é um permanente desafio.
Quando lutar ou desistir?
Carsten Wrosch, professor de Psicologia na Concordia University, constatou em pesquisas que as pessoas que desistem de metas inatingíveis têm menos sintomas depressivos e emoções negativas, além de níveis mais baixos de cortisol e de inflamação sistêmica.
Mesmo para Churchill, que estimulou estudantes no famoso discurso a nunca desistirem – “nunca, nunca, nunca” –, desistências podem ser um bom negócio. Ele teve uma série delas, do partido, do governo, da carreira política antes de se transformar no guerreiro que levou a Inglaterra à vitória na Segurança Guerra pedindo sangue, suor e lágrimas.
– Talvez tenha sido a longa série de desistências que ajudou Churchill a forjar a força e a coragem para o enfrentamento quando era realmente necessário –
Mas a pergunta de 1 milhão de dólares, que fizeram o professor de Psicologia, os autores e talvez Churchill, é: quando lutar e quanto desistir?
Os autores criaram uma brincadeira para ajudar os indecisos a decidir no cara ou coroa, como forma de avaliar os sintomas, já que é impossível prever o futuro de qualquer projeto, senão testá-lo e fracassar nele. O mais rápido possível.
No site Freakonomics Experiments, pessoas com problemas desgastantes podem jogar uma moeda virtual para decidir como terminar um relacionamento, largar um emprego, fazer uma dieta, voltar a estudar ou mesmo fazer uma tatuagem. Ficaram impressionados com o quanto ajudaram de gente a mudar de vida.
No lado sério, fica claro que a coragem para romper com a manada, os dogmas reativos e o medo do fracasso depende de buscar e aceitar feedbacks verdadeiros, bons ou maus, entender as motivações alheias e, sobretudo, saber que nada sabe.
Pensar, enfim, como uma criança.
No título do capítulo em que pregam claramente isso, lembram o caso de Alex Stone, mágico americano graduado em física avançada.
Pela experiência, ele garante que é mais difícil enganar crianças que adultos. Em Enganando Houldini (Fooling Holdini), sobre a ciência da manipulação, ele dá exemplos e lista reações baseadas em preconceitos, dogmas e expectativas que os impedem de prestar atenção com a curiosidade genuína das crianças.
– Inteligência não combina muito com credulidade – diz.
Perguntar, buscar e aceitar feedback, como uma criança delirando na frente de uma mágica, pode ser o caminho.
Como convencer quem não quer ser convencido?
A propósito, os autores dão cinco lições de como convencer pessoas que não querem ser convencidas. Que pode ser muito útil no terreno minado das redes sociais.
1. Considerar que é o outro quem decide se sua opinião está certa. “Sua argumentação pode ser actualmente incontestável e logicamente irrespondível, mas, se não encontrar ressonância no interlocutor, você não conseguirá chegar a lugar nenhum.”
2. Não finja que seu argumento é perfeito. “Se você sustentar um argumento que prometa só benefícios sem nenhum custo, seu interlocutor nunca vai engolir.”
3. Reconheça as razões do oponente. “A argumentação oposta sempre tem algum valor. Um oponente que sinta que seu argumento é ignorado provavelmente não se deixará convencer.”
4. Guarde os insultos para si mesmo. Nada de chamar o oponente de troglodita, misantropo e idiota. As pessoas não aceitam críticas muito bem. As informações negativas pesam mais no cérebro. Pesquisas com professores alemães descobriram que o alto índice de doenças na classe estava relacionado a críticas dos alunos.
5. Conte histórias. Histórias desenrolam um encadeamento de fatos que conduzem a determinada situação e consequências, com os quais o narcisista em nós procura se identificar. As pessoas não memorizam regras, mas se envolvem nos exemplos de uma história. Ninguém cita de cor os dez mandamentos, mas conhece toda a história de Abrahão.
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